domingo, 17 de março de 2024

Boomerang de frio congelou russos

Populares queimam o que podem sem aquecimento
Populares queimam o que podem sem aquecimento
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Centenas de milhares de russos ficaram sem aquecimento no ultimo inverno (2023-2024), que foi particularmente rigoroso. Avarias em sistemas de aquecimento coletivo foram relatadas em todo o país.

As maiores delas foram registradas em Podolsk, uma cidade dormitório nos arredores de Moscou com uma população de 149 mil pessoas, segundo reportagem da FranceTVinfo.

Caldeiras quebradas, canos estourando em quase todos os lugares foram uma constante na região de São Petersburgo, em Voroniej, Volgogrado, e até no Extremo Oriente...

Por toda parte, viram-se moradores intumescidos de frio e exaustos, se aquecendo em grupos em volta de esquálidas fogueiras alimentadas com restos de qualquer coisa que queime.

Alguns deles difundiram vídeos nas redes sociais para dizer que estão congelando em casa e literalmente de congelar até a morte.

Como sempre acontece numa situação destas na Rússia de Putin, os cidadãos entre desesperados e resignados ante o fatalismo ensinado por cismâticos e comunistas apelaram a autoridade máxima do Kremlin.

Moradores gravam mensagem pedindo auxilio a Putin
Moradores gravam mensagem pedindo auxilio a Putin
Esse encenou alguma reação e pediu ao Ministério de Situações de Emergência tomar medidas. Também trombeteou que estava assumindo pessoalmente a situação que só se resolveu com o fim do inverno.

Nas redes sociais, não poucos russos, e em particular os ucranianos, viram nisto a prova de que a Rússia inteiramente focada na economia de guerra, estava a pagar a conta, cobrada por uma mão providencial.

Na realidade o problema não é tão novo: está intimamente ligado às disfunções crônicas do regime russo igualitário e dirigista, que é mais do mesmo do que havia na falida URSS.

As enormes caldeiras feitas para aquecer inteiras áreas urbanas herdadas da era soviética foram mal conservadas, e a guerra consumiu as verbas não roubadas pelos burocratas que deveria consertá-las.

Há décadas que os governos prometem resolver o problema, mas a rigidez burocrática, o imediatismo político e a corrupção significam que nada está a melhorar.

Pelo contrário, tudo piora como no comunismo soviético.

O governo russo não pode acalmar o descontentamento porque a economia de guerra produz consequências de longa duração, entre as quais o deterioro ou omissão de conserto de todos os serviços públicos. Já se faz saber que as verbas para melhorar as habitações coletivas diminuirão drasticamente nos próximos anos.

Casas invadidas pelo gelo de um inverno severo
Casas invadidas pelo gelo de um inverno severo
Um quarto dos russos não tem acesso a banheiros conectados ao esgoto.

O projeto de modernização do aquecimento socializado é gigantesco... no papel. Entretanto, para acalmar a população, o governo recorre aos velhos métodos socialistas: escolher culpados.

Em Podolsk, o vice-chefe da administração e o diretor da sala das caldeiras foi detido e encarcerado por corrupção, mas nada foi solucionado.

Pensar que no início da guerra de invasão da Ucrânia a Rússia bombardeou seletivamente os sistemas de energia das cidades ucranianas, achando que o pobre país não suportaria o frio e acabaria capitulando.

A Ucrânia resistiu patriótica e religiosamente. Agora, tudo se passa como se um boomerang providencial tivesse abatido sobre a população russa recordes de frio com as infraestruturas de aquecimento sem conserto.

Ficaram em pânico Putin, seus cúmplices e o monstruoso dirigismo comunista que o déspota do Kremlin faz tudo para preservar. Pois o omniarca se aterroriza quando ouve os escravos agitando as correntes que os prendem, neste caso gemendo de frio.


domingo, 10 de março de 2024

Acusar de “seita”: velho artifício comunista, hoje putinista

Alexander Novopashin, clérigo cismâtico encarregaddo de rotular de 'seita' aos adversários cristãos de Puitn
Alexander Novopashin, clérigo cismâtico encarregado de
rotular de 'seita' aos adversários cristãos de Puitn
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
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Moscou explora mais um artifício para reprimir os grupos dissidentes: os acusa de serem perigosas “seitas” cuja ameaça para a sociedade deve ser extirpada.

Nessa perseguição, o Kremlin tem um apoio destacado no líder anti-“seita”: o arcipreste Alexander Novopashin, que esteve afiliado até março de 2023 à Federação Europeia de Movimentos Anti-“seita” apoiada pela francesa, FECRIS.

Ele oficia na catedral cismâtica de São Alexander Nevsky, em Novosibirsk, dependente do Patriarcado de Moscou, porta-voz religioso das vontades de Putin.

A denúncia das ações deste agente foi feita por “Bitter Winter” site especializado em desvendar as perseguições religiosas no mundo.

O arcipreste é um inimigo profissional das “seitas” para o que ele elaborou um coquetel venenoso de ideologia criminosa do regime de Putin com os artifícios do movimento anti-“seita” ao estilo FECRIS.

Novopashin acusa os EUA de satanista e aponta contra a Ucrânia como responsável dos crimes satanistas cada vez mais freqüentes na Rússia.

Esse coquetel é derramado contra as vítimas escolhidas a dedo ou, por vezes, é mantido em silêncio aguardando para aplicá-lo em seu momento. A polícia política putinista escolhe.

Após o início da guerra de agressão contra a Ucrânia, a maior parte do coquetel saiu à luz para espalhar teorias anti-ucranianas tão absurdas quanto possível.

Em comparação com Alexander Dvorkin, outro importante ativista russo que trabalha contra ditas “seitas”, Novopashin se assemelha mais a um burocrata obtuso que multiplica as contradições, apontou Massimo Introvigne especialista nas perseguições anticristãs na Europa e no mundo.

O eclesiástico russo já apareceu bancando de especialista em espionagem.

Ele disse ao “News of Siberia” que a inteligência ucraniana recrutou “milhares” de agentes na Rússia para espionar infraestruturas militares, movimentos de tropas e comboios militares.

Ele apontou aos “tristes seguidores de Navalny”, o dissidente a quem definiu “agente estrangeiro e terrorista”. Navalny morreu depois num cárcere ártico, causando comoção mundial pelo aparente assassinato putinista.

Novopashin e Kolokoltsev, ministro do Interior, representantes russos na aliança ocidental anti-seita FECRIS
Novopashin e Kolokoltsev, ministro do Interior,
representantes russos na aliança ocidental anti-seita FECRIS
Novopashin não conta, nem sabe, onde se escondem os espiões ucranianos. “Na maioria das vezes”, explica o arcipreste da polícia putinista, “os encarceramentos de espiões ucranianos ocorrem em novas regiões do país”, ou seja, em partes da Ucrânia que a Rússia anexou fraudulentamente.

O arcipreste acusa a ucranianos de espionar para a Ucrânia na própria Ucrânia, o que não deixa de ter algo de histriônico.

“Mas o SBU [serviço de inteligência ucraniano] tenta expandir a sua rede de agentes, razão pela qual seus agentes são detidos mesmo na Sibéria”, acrescenta incongruentemente.

“Na verdade”, explica o inimigo das “seitas” que não são a sua, “milhares de agentes recrutados foram descobertos, a imprensa noticia apenas os casos mais ressonantes”.

E ali ele encaixar sua missão: “é necessária uma contra-propaganda em grande escala para suprimir as atividades de recrutamento do inimigo”.

“Os cidadãos da Federação Russa devem saber em detalhes como funciona a inteligência estrangeira, como ocorre o recrutamento e quais ameaças os agentes potenciais enfrentam para tais ações”. Essa denúncia justificaria a detenção de dissidentes anti-Putin.

“Tudo isto deve ser apresentado com exemplos modernos e históricos, da forma mais clara possível. Mas, infelizmente, esse trabalho não está sendo realizado”.

“Precisamos de uma visão mais ampla e inteligente do problema, e isto não é apenas uma questão da competência dos serviços de inteligência”, acrescentou.

A pátria russa precisa de lutadores contra as “seitas” que sejam clarividentes como ele para denunciar os espiões ucranianos que se escondem nessas “seitas”.

O jornal siberiano, em acordo com o arcipreste-policial Novopashin, apresenta uma antiga lista de 58 “seitas” (e “muitas outras”), que inclui de tudo, desde os Santos dos Últimos Dias às Testemunhas de Jeová, e desde a Cientologia à desconhecida Soka Gakkai.

O clérigo do Patriarcado de Moscou também define quem é cristão ou não, como no caso da Igreja da Nova Geração, que Putin persegue por qualquer razão, e que ele chama de “paródia blasfema do Cristianismo, movimento sectário ocultista”.

Obviamente, para ele a pior das “seitas” é o anticomunismo e o catolicismo levados a sério.


domingo, 3 de março de 2024

Guerra é usada para atroz “purga” na Rússia

Velório de Alexei Navalny, dissidente 'purgado' porque podia oscurecer o triunfo
Velório de Alexei Navalny, dissidente 'purgado'
porque podia oscurecer o triunfo
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Putin empreendeu uma “purga” daqueles que não o acompanhavam em sua enigmática marcha ao precipício. E a guerra de invasão da Ucrania foi a oportunidade.

De certo muitos da “oligarquia” se manifestaram e foram purgados, sendo encontrados suicidados, caindo da janela, etc.

Essas dezenas de “acidentes” que noticiamos fartamente neste blog, agora pela primeira vez uma alta autoridade russa reconheceu que fazem parte de uma purga. O estilo é do modelo soviético admirado por Putin: o de Joseph Stalin.

Quem deu a público que essas dezenas de mortes de altos funcionários russos, civis e militares foi pelo desejo supremo de "purgar", foi nada mais e nada menos que o Ministro de Relações Exteriores Serguei Lavrov, um dos mais íntimos colaboradores na ditadura de Putin.

Lavrov falou na comemoração do segundo ano da invasão, que deveria se ter completado em poucos dias e está custando por volta de 500.000 baixas, equivalentes ao número total dos soldados enviados para o ataque geral inicial.

Serguei Lavrov não teve escrúpulo em comemorar os “benefícios” dessa cruel guerra, incluindo entre esses a necessidade de uma purga que eles precisavam na sociedade russa, segundo noticiou a Radio France International (RFI).

A criminosa afirmação não é invenção de Lavrov, mas de seu patrão Vladimir Putin.

Esse, logo no início da guerra, em 17 de março de 2022, declarou num discurso no estádio Luzhniki: “O povo russo sempre será capaz de reconhecer a escória e os traidores, cuspi-los como se cuspiria um mosca que entrou na boca”.

O número exato é desde então desconhecido, porque entre os “purgados” e execrados se contam muitos cidadãos, quiçá bem mais de um milhão, que fugiram do país, por todas as fronteiras.

Russos fogem do recrutamento pela fronteira da Georgia
Russos fogem do recrutamento por todos os meios pela fronteira da Georgia
Uns não queriam ser enviados como recrutas forçados para a Ucrânia e outros temiam a miséria e a repressão interna que viria num alucinado clima de guerra.

Os deputados putinistas falam regularmente da necessidade de punir mais severamente aqueles que são considerados críticos do seu país, seja na Rússia ou no esterior, acrescentou a RFI.

De fato, no exterior os serviços secretos russos também executaram “oligarcas”, funcionários, ex-militares e dissidentes em geral.

Dois anos após o início do conflito, Sergei Lavrov insistiu:

A operação especial uniu a sociedade na Rússia num grau sem precedentes e ajudou a expurgá-la de pessoas que não tinham um sentimento de pertença à história e cultura russas.

“Alguns foram embora, outros ficaram e começaram a pensar. Mas a esmagadora maioria da sociedade se reuniu”.

O poder russo também pretende demonstrar, diz a RFI, tanto externa como internamente, que o apoio russo ao seu chefe de Estado é inquestionável.

Este é um dos objetivos das eleições presidenciais de meados de março.

O resultado delas já está escrito e para ninguém há suspense, tendo sido assassinados ou supressos legalmente os candidatos que poderiam colher certa votação e desdourar o triunfo aparatoso de Putin.



Dezenas de milhares de russos desafiam Putin no enterro de Navalny




"Ficou claro que Putin não é invencível na Rússia". A coragem popular



domingo, 25 de fevereiro de 2024

Loucura ditatorial na Rússia de Putin

Poetas punidos com 5 e 7 anos de cárcere por poesia contra a guerra na Ucrânia
Poetas punidos com 5 e 7 anos de cárcere
por poesia contra a guerra na Ucrânia
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Putin governa Rússia desde 1999. Nesses anos ficou excluída qualquer oposição séria, mas a repressão se acelerou desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022.

Nos últimos dois anos, milhares de russos, opositores ou cidadãos comuns, foram condenados pelos tribunais por terem criticado a ofensiva contra a Ucrânia. Às vezes com penalidades particularmente severas, noticiou a TV “France 24”.

Artiom Kamardine e Iegor Shtovba foram presos em setembro de 2022 após participarem de uma leitura pública em Moscou, na Praça Triumfalnaya, perto do monumento ao poeta Vladimir Mayakovsky, ponto de encontro de dissidentes desde os tempos soviéticos.

No dia seguinte, ele foi preso durante uma busca em sua casa, durante a qual alegou ter sido espancado e estuprado por policiais.

Processados inicialmente por “incitamento ao ódio”, os dois poetas foram depois também acusados de “apelos públicos à realização de atividades contra a segurança do Estado”.

“Vergonha” gritavam os apoiadores de Artiom Kamardine, 33 anos, e de Iegor Chtovba, 23 anos, no anúncio deste julgamento, a esposa do primeiro gritando-lhe que o amava, notou um jornalista da AFP presente na audiência.

Centenas foram presos pondo flores em memorial a Navalny. Mais de 200 sofreram penas
Centenas foram presos pondo flores em memorial a Navalny.
Mais de 200 sofreram penas
“É uma arbitrariedade absoluta!”, exclamou o pai de Artiom Kamardine, Yuri. Várias pessoas foram presas pela polícia fora do tribunal após o julgamento dos dois homens.

“Todos são iguais perante a lei, mas alguns são mais iguais que outros. Nossos filhos se mostraram desiguais na luta contra eles”, brincou sua mãe, Elena.

Pouco antes de a sentença ser pronunciada, Artiom Kamardine leu alguns versos sobre poesia, o que segundo ele permite “quebrar o silêncio” e “colocar as tripas na mesa”. “A poesia é a vitória sobre o tempo e o caminho do prisioneiro, do cativo”, recitou.

Ele também disse à imprensa que “não desistiu” e não “se arrependeu”. “Muitas pessoas da cultura que admiro tiveram experiências na prisão”, disse ele.

Durante a leitura da sentença, Artiom recitou o poema “Mate-me, miliciano!”, hostil aos separatistas pró-russos no leste da Ucrânia.

“Não sou um herói e ir para a prisão pelo que penso nunca fez parte dos meus planos”, disse Artiom ao tribunal no seu discurso final, publicado no Telegram pelos seus simpatizantes.

Implorando ao juiz que o deixasse “voltar para casa”, prometeu em troca manter distância de qualquer “assunto delicado”.

Sua esposa, Alexandra Popova, lamentou à AFP uma sentença “muito severa”. “Sete anos para poesia, por uma ofensa não violenta”, ressaltou.

Prisão é o destino de quem não opina como Putin
Prisão é o destino de quem não opina como Putin

“Por mais que quiséssemos acreditar no fundo que as coisas seriam mais tranquilas, mais fáceis”, era “uma loucura ter esperança”, continuou ela. “Se tivéssemos tribunais normais, esta situação não existiria.”

Ela foi levada pela polícia após falar com a imprensa.

Um terceiro poeta, Nikolai Daïneko, preso na mesma época, foi condenado a quatro anos de prisão em maio, segundo o OVD-info.

A Rússia tem vindo a suprimir vozes críticas durante anos, mas a campanha de repressão assumiu proporções consideráveis com o lançamento da ofensiva contra a Ucrânia.

De acordo com o OVD-Info, quase 20.000 pessoas foram presas na Rússia por se oporem ao conflito na Ucrânia desde fevereiro de 2022. A ONG Memorial lista 633 presos políticos atrás das grades, informou “La Nación”.

Em novembro, a artista Alexandra Skotchilenko, detida em abril de 2022, foi condenada a sete anos de prisão por substituir etiquetas de preços num supermercado com mensagens denunciando a ofensiva na Ucrânia.

A artista Alexandra Skotchilenko presa pelo crime de deixar dizeres em supermercado contra a guerra na Ucrânia
A artista Alexandra Skotchilenko presa pelo crime de deixar dizeres
em supermercado contra a guerra na Ucrânia
Um estudante de Yaroslavl, um artista em São Petersburgo, um engenheiro em Kaliningrado, um professor aposentado na Buriácia, um escritor na região de Krasnodar... Na Rússia, todos os dias aumenta a lista de cidadãos perseguidos por “apologia do nazismo”, “extremismo” ou “difamação do Exército”.

De acordo com uma nova lei em vigor desde março de 2022, todos podem ser condenados. Mas a repressão é particularmente dura contra os intelectuais.

Entre 24 de fevereiro de 2022, data da invasão da Ucrânia, e 3 de dezembro de 2023, 19.884 pessoas foram detidas por manifestarem oposição à guerra, segundo a ONG russa OVD-Info, especializada no monitoramento de detenções e brutalidades policiais.

As sentenças vão de seis, sete, oito a até 25 anos de prisão. A pena mais dura foi infligida ao oposicionista Vladimir Kara-Mourza.

Yegor Balazeïkine (17 anos), foi condenado em novembro de 2023 a seis anos de prisão por um tribunal militar de São Petersburgo, por ter tentado atear fogo a um centro de recrutamento.

Quase 300 mulheres e homens se apinham nas celas, sejam opositores, simplesmente perseguidos, Testemunhas de Jeová ou tártaros da Crimeia.

A ONG de direitos humanos Memorial, aliás interditada e que teve fechados os seus museus dos Gulags soviéticos, estima que há um total de 1.352 presos políticos.

Comparado com os 144 milhões que constituem a população russa, o número pode parecer modesto. O problema é que aumenta exponencialmente.

Segundo a mesma organização, antes de Mikhail Gorbachev chegar ao poder, os presos políticos não ultrapassavam os 700.

“A repressão não faz distinção de idade ou profissão: pode ser uma aposentada ou uma jovem sem influência. A mensagem que o Kremlin envia é que ninguém está seguro”, afirma Olga Prokopieva, porta-voz da Rússia-Liberdades.

“E as penas são muito duras. Ao mesmo tempo, os criminosos são perdoados (prisioneiros recrutados nas prisões para sedrem enviados à “moedora de carne na frente ucraniana). É assustador”, acrescenta.

Ela reconhece, no entanto, que o poder putinista exerce uma repressão particular contra os intelectuais.

Na região de Tver, por exemplo, a produtora audiovisual Ludmila Razumova (56 anos) foi condenada a sete anos de colônia penal juntamente com o marido por ter publicado um vídeo nas redes sociais sobre “o uso das Forças Armadas Russas para destruir cidades e civis da Ucrânia”.

Jornalista Maria Ponomarenko condenada por ser contra a invasão da Ucrânia
Jornalista Maria Ponomarenko condenada por ser contra a invasão da Ucrânia
O casal também foi acusado de atos de “vandalismo” porque pintou a inscrição “Ucrânia, perdoe-nos” na parede de uma empresa. Mãe de três filhos, Ludmila passou um ano isolada.

A jornalista da RusNews Maria Ponomarenko (45 anos) foi condenada a seis anos de prisão por um artigo sobre o bombardeio do teatro dramático de Mariupol, na Ucrânia.

Ela foi presa em abril de 2022, em São Petersburgo e depois foi transferida a 4 mil quilômetros de distância para o centro de detenção provisória de Barnaul, na região de Altai.

Em março de 2023 foi encaminhada a um hospital psiquiátrico por se recusar a se despir na frente da polícia, e mais uma segunda vez em outubro. Pouco depois foi apresentada à força perante uma comissão disciplinar, descalça e algemada, por ter “pisado nos pés” dos agentes penitenciários.

Tal como nos tempos da União Soviética, os juízes e as administrações penitenciárias recorrem cada vez mais à psiquiatria punitiva. Muitos presos políticos também sofrem maus-tratos, tortura e privação de cuidados médicos.

Boris Akunin, um dos escritores russos mais famosos, foi rotulado de “terrorista” e suas obras foram retiradas da venda.

Dois anos depois do lançamento da “operação militar especial” de Putin contra Ucrânia, a armadilha judicial fechou-se em torno deste ensaísta e romancista que, com a sua caneta amarga, critica Vladimir Putin e denuncia “a guerra” (é crime chamar assim a “operaçao especial”, termo oficial).

Rosfinmonitoring, a agência federal de inteligência financeira, incluiu Akunin no registro de terroristas e extremistas. A polícia revistou as edições de Zakharov que distribuem os seus livros, e uma investigação de “difamação” do exército forçou as livrarias a retirar “As Aventuras de Eraste Fandorin” e todos os seus outros best-sellers dos seus catálogos.

Poeta foi surrado e violado por ler poesia anti-guerra
Poeta foi surrado e violado por ler poesia anti-guerra
Akunin vive exilado em Londres desde 2014 e acompanha à distância esta crescente onda de repressão contra os detratores do Kremlin.

“A loucura venceu”, lançou ele em 24 de fevereiro de 2022, descrevendo a ofensiva militar russa na Ucrânia como uma “guerra do absurdo”. Ele tampouco conteve as críticas a Putin: “A Rússia é liderada por um ditador que é mentalmente desequilibrado e, pior ainda, obedece à sua paranóia”, declarou.

No exílio, co-fundou o projeto “Nastoïachtchaïa Rossia” (Verdadeira Rússia) com outras personalidades culturais que fugiram do país.

“A repressão tornou-se intermina. A qualquer momento a lâmina pode cair sobre qualquer um de nós”, confidencia outra figura da autoproclamada “classe criativa anti-Putin”.

Por questões de segurança, este renomado escritor prefere permanecer anônimo porque, ao contrário de Boris Akunin, decidiu continuar morando na Rússia.

“É o meu país. Não é minha função partir. Mas escrever sobre o atual ambiente de guerra e repressão é impossível”, lamenta.

Quando pode, aproveita as bolsas europeias para deixar a família na Rússia e passar algumas semanas no estrangeiro.

Circularam mensagens nas redes sociais russas acusando-o de traição e extremismo, e de ser “um agente estrangeiro” devido aos seus contactos ocidentais.

Artistas renomadas aguardam julgamento
Artistas renomadas aguardam julgamento
“Tudo pode começar com trolls na internet e terminar em processos judiciais reais. Nós, intelectuais, estamos diretamente ameaçados”, confirma.

Evguenia Berkovitch, conhecida diretora de teatro, aguarda seu julgamento desde o verão. Oficialmente, ela é acusada de “defender o terrorismo” depois de um programa sobre o destino de mulheres recrutadas por islâmicos sírios.

Mas o seu grande pecado foi denunciar o Kremlin e sua ofensiva militar. No entanto, um público bastante jovem e intelectual tem a coragem de frequentar o pequeno teatro independente onde são apresentadas as suas obras, numa Moscou quase subterrânea.

Poucos dias antes do Natal, uma de suas criações terminava com um poema de outro autor: “Não vale a pena escrever, não vale a pena ler, é impossível acabar com a guerra ou começar a viver. Já é noite e você não consegue ver quase nada. A grama está coberta por uma névoa impenetrável”.


domingo, 18 de fevereiro de 2024

Morte de Navalny e vertigem de fraudes eleitorais

Alexei Navalny foi alastrado de cárcere em cárcere até morrer
Alexei Navalny foi alastrado de cárcere em cárcere até morrer
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Putin já aprontou tudo para ser eleito presidente pela enésima vez e pelas mesmas tenebrosas vias. Seu principal opositor Alexeï Navalny desaparecera da colônia penal de Vladimir, 250 quilômetros a leste de Moscou, onde estava preso.

Seu advogado e familiares não tinham notícias dele até que após três semanas de buscas em que as autoridades putinistas diziam não saber de nada foi achado na colônia penal número 3, noticiou “Paris Match”.

O cárcere fica em Kharp, Yamalo-Nenetsia, uma região remota no norte da Rússia é inacessível, para além do Círculo Polar Ártico. No local estão localizadas várias colônias penais herdadas do Gulag soviético de sinistra memória.

Nela apareceu morto quando contava com apenas 47 anos. Morte misteriosa em que o corpo apareceu com hematomas múltiplos, segundo o jornal independente “Novaya Gazeta Europa”, retransmitiu “El Mundo”.

O governo alegou diversas versões do falecimento e não queria entregar o corpo à família.

Numerosas autoridades do mundo como o presidente dos EUA responsabilizaram Putin pela surpreendente morte do opositor. O aparente crime oficial acirrou as já difíceis relações econômicas e militares entre Rússia e o Ocidente.

Ativista carismático anticorrupção e inimigo número um de Vladimir Putin, Navalny cumpria pena de 19 anos de prisão por “extremismo”.

Colônia penal de  Kharp, Yamalo-Nenetsia, onde acabou morto Alexei Navalny
Colônia penal de  Kharp, Yamalo-Nenetsia, onde acabou morto Alexei Navalny
Ele foi encarcerado em janeiro de 2021 ao retornar de uma convalescença na Alemanha por um veneno ded uso exclusivo da polícia política de Putin: a FSB, herdeira da KGB.

Um de seus associados, Ivan Zhdanov, explicou que é “um dos assentamentos mais setentrionais e remotos” da Rússia. “As condições lá são difíceis”, explicou no X. “É muito difícil chegar lá e não existe sistema de distribuição de cartas ou (acesso telefônico)”, acrescentou.

O veredicto de “extremismo” condenou Navalny a um “regime especial” em um estabelecimento onde as condições de detenção são mais duras, e onde v os mais perigosos prisioneiros para o regime purgam prisão perpétua.

“Desde o início ficou claro que as autoridades queriam isolar Alexei, em particular antes das eleições presidenciais” marcadas para março de 2024, reagiu Ivan Zhdanov.

As transferências de uma colônia penal para outra na Rússia levam várias semanas e os parentes dos detidos não são ouvidos durante esse período.

A Casa Branca disse estar “muito preocupada” e exigiu mais uma vez a libertação do opositor, sem eco algum. O movimento de Navalny foi metodicamente erradicado nos últimos anos pelas autoridades. Seus colaboradores e aliados foram empurrados para o exílio ou a prisão.

Oferenda floral a Navalny num local público da Rússia.
Oferenda floral a Navalny num local público da Rússia.
O seu Fundo Anticorrupção foi declarado “extremista” em 2021 e se aproximava a eleição, a polícia dou prender a sua diretora, Maria Pevtchikh, que fugiu para o estrangeiro.

Perante uma oposição esmagada e a repressão de qualquer voz crítica no país, Vladimir Putin ambiciona um novo mandato de seis anos no Kremlin que o levará até 2030, ano em que assumirá o poder com 78 anos.

Desde o primeiro cárcere, Navalny convocou os russos para protestarem contra a invasão da Ucrânia ordenada pelo presidente Vladimir Putin.

Por isso, muitos dos seus apoiadores temiam o pior, aliás já acontecido a varias dezenas de oligarcas que apareceram suicidados do modo mais suspeito, escreveu “Clarín”.

Dezenas de manifestantes anti-guerra foram detidos em São Petersburgo após pedirem a paz e o retorno dos soldados desaparecidos na Ucrânia. Após a morte, ou assassinato, de Navalny em ruas de muitas cidades russas foram erigidos monumento florais em sua memória.

A polícia prendeu com violência a pelo menos 400 pessoas que foram a depositar uma flor em algum desses monumentos simbólicos.

A Comissão Eleitoral Russa também descartou a candidatura presidencial da ex-jornalista televisiva e ex-deputada municipal Iekaterina Duntsova, informou “Le Monde”.

Iekaterina Duntsova ex-deputada contrária à guerra na Ucrânia foi desqualificada pelo TSE russo por ser muito jovem
Iekaterina Duntsova ex-deputada contrária à guerra na Ucrânia
foi desqualificada pelo TSE russo por ser muito jovem
A Comissao arguiu “erros” no de registro, segundo informou no Telegram a equipe de campanha da desqualificada, três dias depois ela solicitar o registro no tribunal eleitoral.

A presidente da Comissão Eleitoral, Ella Pamfilova, declarou que foi rejeitada por unanimidade a candidatura desta mulher de 40 anos dizendo que a candidata “é uma jovem, tem toda uma vida pela frente”.

Yekaterina Duntsova propunha acabar com a guerra na Ucrânia e libertar os prisioneiros políticos, posição que contradiz a Putin.

Quase todos os principais opositores foram presos ou levados ao exílio, e milhares de russos comuns foram processados e multados ou presos por expressarem o seu desacordo com o Kremlin.

A vitória de Vladimir Putin era indubitável mas o Tribunal Eleitoral não quis deixar nem mesmo uma pálida sombra de oposição rejeitando a candidatura de Boris Nadejdin, o único candidato anti-Putin que ainda sobrava.

O opositor anunciou-o no início de fevereiro, uma semana depois de ter apresentado 105 mil assinaturas necessárias para concorrer, informou o “Huffpost”.

Boris Nadejdin criticou Putin e foi declarado 'não-candidato'
Boris Nadejdin criticou Putin e foi declarado 'não-candidato'

Boris recorreu ao Supremo Tribunal de Justiça sabendo que sua sorte estava decidida no Kremlin.

O Tribunal Eleitoral achou que 15% das assinaturas apresentadas eram “errôneas”.

Nadejdin é um antigo deputado liberal e discreto veterano da vida política que podia canalizar as esperanças dos russos opostos às políticas do Kremlin, após a supressão de outras figuras da oposição, todas elas hoje no exílio ou na prisão.

“Dezenas de milhões de pessoas iriam votar em mim. Estou em segundo lugar, atrás de Putin!”, proclamou perante o Tribunal Eleitoral. Essas palavras selaram sua perdição final

Ele prometia parar o “pesadelo” da ofensiva na Ucrânia, pôr fim à “militarização” da Rússia e libertar “todos os presos políticos” como o opositor Alexeï Navalny encarcerado no Ártico em local inacessível.

Nenhuma outra figura anti-Putin havia se arriscado a assumir essas causas sem ser punida.

A polícia russa prendeu centenas de pessoas que foram depositar flores por Navalny
A polícia russa prendeu centenas de pessoas que foram depositar flores por Navalny
O Kremlin desprezava-o: “não o consideramos um concorrente”, disse Dmitri Peskov, porta-voz do presidente russo. E o Tribunal aceitou a vontade do mestre, como nos tempos da falida URSS.

Com boa antecipação Putin estava creditado com cerca de 80% (não com mais de 100% como Fidel Castro) das intenções de voto, segundo sondagens que obviamente não podem dar resultados negativos para o ditador. Esse está no poder desde 1999.



domingo, 24 de dezembro de 2023

Santo Natal e Feliz Ano Novo ! Pela salvação da Ucrânia e pela conversão da Rússia



Natal nas trincheiras da Ucrânia martirizada pelo invasor russo
Natal nas trincheiras da Ucrânia martirizada pelo invasor russo

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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domingo, 3 de dezembro de 2023

Batalhões de extermínio de russos sob Putin

Ex-soldados dos 'Storm Z' revelaram o trato criminoso de seus chefes
Ex-soldados dos 'Storm Z' revelaram o trato criminoso de seus chefes.
Na foto: prisioneiro russo fala
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
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Centenas de presos militares e civis foram incorporados em unidades penais russas conhecidas como esquadrões “Storm Z” (Tempestade Z) enviados propositalmente para morrer nas frentes na Ucrânia.

Assim revelaram 13 pessoas familiarizadas com o assunto, incluindo cinco combatentes dessas unidades, narrou relatório publicado por “La Nación”.

Os esquadrões “Storm Z” são empurrados para a primeira linha de fogo sem treinamento nem armamento adequado e poucos sobrevivem para contar o que lhes aconteceu.

Este método de punição foi instituído pelo cruel Stalin para suprimir dissidentes, soldados insubordinados e presos das cárceres.

“Os combatentes das tropas de assalto nada mais são do que carne”, declarou acabrunhado um soldado regular da unidade 40318 do Exército russo que é médico.

Ele foi destacado em maio e junho de 2023 perto da disputada cidade de Bakhmut, onde teriam morrido milhares de soldados russos em condições espantosas.

O militar disse ter prestado tratamentos médicos a um grupo de seis ou sete combatentes da “Storm Z” feridos no campo de batalha.

'Sorm Z' são enviados ao 'moedor de carne'
'Sorm Z' são enviados ao 'moedor de carne'
Por causa disso, desobedeceu ordem de um comandante – cujo nome não sabia – de os abandonar para morrerem desesperados.


Ele contou que a ordem do comandante mostrava que os oficiais consideravam os combatentes da unidade “Storm Z” como subhomens de menor valor do que as seres comuns.

O soldado, que pediu anonimato porque temia ser processado na Rússia por falar do caso, tinha pena dos feridos.

“Se os comandantes pegam alguém com cheiro de álcool no hálito, eles imediatamente o enviam para os esquadrões Storm”.

Mas o álcool é um vício generalizado na Rússia, e é reforçado pelas condições calamitosas em que vivem os soldados enviados a invadir um país que não conhecem e até simpatizam com ele.

A Reuters procurou um oficial da unidade 40318, mas esse se recusou a comentar as práticas da “Storm Z”. O Kremlin desviou as perguntas da Reuters para o Ministério da Defesa russo, que não respondeu.

A mídia russa controlada pelo Estado reconhece a existência de esquadrões “Storm Z”, mas oculta as baixas que sofrem, particularmente importantes pelo seu caráter de “unidades de extermínio” dos indesejados na Rússia.

A agência de notícias Reuters foi a primeira a compilar um relatório abrangente sobre como os esquadrões são formados e mobilizados.

Soldados de 'Storm Z' não querem ir ao combate
Soldados de 'Storm Z' não querem ir ao combate
A Reuters coletou os dados depois de falar com muitas fontes com conhecimento direto do que está acontecendo nas fileiras russas.

Outras 13 pessoas entrevistadas – incluindo quatro familiares de integrantes das unidades e três militares regulares que interagiam com os esquadrões – solicitaram anonimato, por medo de represálias.

A Reuters verificou as identidades de todos os combatentes envolvidos usando antecedentes criminais, contas de redes sociais e conversou com seus colegas militares e suas famílias.

Putin continua com as práticas inumanas ditadas por Stalin, de quem é declarado admirador, ainda quando seus agentes de propaganda o apresentam no Ocidente como um líder mundial conservador, pela vida, pela família e pelo bem da humanidade.



domingo, 26 de novembro de 2023

“Guerra híbrida” da Rússia usando migrantes

Finlândia fecha fronteiras a asiáticos e norteafricanos usados como massa de invasão pela Rússia
Finlândia fecha fronteiras a asiáticos e norteafricanos usados como massa de invasão pela Rússia
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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A Finlândia fechou quase todos seus pontos fronteiriços com a Rússia acusando Moscou de tentar desestabilizar o país ao permitir que migrantes indocumentados atravessassem a fronteira, noticiou “Yahoo!Actualités”.

A Finlândia partilha uma fronteira de 1.340 km com a Rússia e assiste a um afluxo de migrantes isentos de visto por Moscou.

O estranho é que essas ondas migratórias provêm do Médio Oriente e de África, particularmente do Iraque, da Somália e do Iêmen, e teriam sido encaminhadas pelo Kremlin como parte de uma “guerra híbrida”.

“O governo tomou a decisão de fechar os pontos de passagem de Vaalimaa, Nuijamaa, Imatra e Niirala”, disse a ministra do Interior finlandesa, Mari Rantanen.

Como africanos e meio-orientais teriam atravessado a imensa distância saindo de regiões quentes para fronteiras geladas sem um estimulo e apoio material do governo russo?

O encerramento de quatro pontos da fronteira no sudeste deixa aberto apenas uma passagem muito a norte. Ele deveria continuar até 18 de fevereiro de 2024, com o estudo dos pedidos de asilo concentrado em dois centros, mas a data foi adiantada para dezembro 2023.

Migrantes asiáticos e norteafricanos querem entrar na Finlândia vindos da Rússia
Migrantes asiáticos e norteafricanos querem entrar na Finlândia vindos da Rússia
O governo finlandês suspeita que Moscou tenta desestabilizar o país porque aderiu a NATO em abril 2023.

Preparamo-nos para diferentes tipos de ações, atos maliciosos por parte da Rússia, por isso a situação não é uma surpresa”, disse o primeiro-ministro Petteri Orpo.

“Queremos que este fenômeno pare, queremos que a atividade fronteiriça volte ao normal”, acrescentou. “Se a situação se espalhar para outros pontos de passagem e se tornar mais difícil, tomaremos as medidas necessárias”.

“Este desenvolvimento negativo dos acontecimentos levará naturalmente a medidas retaliatórias”, respondeu o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.

Trata-se do surgimento de novas divisões na Europa que não resolvem nada, mas levantam novas questões problemáticas”, disse a porta-voz Maria Zakharova, à agência Tass.

Para Henri Vanhanen, investigador do Instituto Finlandês de Assuntos Internacionais, “a Finlândia envia a mensagem à Rússia de ter a coragem política de tomar medidas adicionais se necessário”.

O Kremlin prometeu tomar “contramedidas” após a adesão da Finlândia a NATO, qualificando a expansão da aliança ocidental como um “ataque à segurança” da Rússia.

Estônia montou um plano para deter a imigração de massa ilegal empurrada pela Rússia
Estônia tem plano para conter
a imigração de massa ilegal empurrada pela Rússia
O alcance destas contramedidas “é limitado apenas pela imaginação”, disse o finlandês Vanhanen à agência AFP, citando ações de desinformação, ameaças de desastres ambientais ou obstáculos à liberdade de circulação no Mar Báltico.

“Esse tipo de ações maliciosas, que permanecem abaixo do limiar da guerra, são aplicadas onde funcionam”, explicou o especialista. É uma guerra camuflada – a famosa “guerra híbrida” – posta em prática por Moscou.

Cerca de 280 requerentes de asilo apresentaram-se na fronteira russo-finlandesa desde setembro, segundo a guarda costeira, mas “os números não são o problema”, observou o ministro do Interior.

“Este é um caso em que temos indicações e informações de que as pessoas estão a ser manipuladas para entrar na Finlândia", disse ele.

A vizinha Noruega, que tem um posto fronteiriço com a Rússia no extremo norte, disse, através da sua ministra da Justiça, Emilie Enger Mehl, que está pronta para fechar a sua fronteira “se necessário, num curto espaço de tempo”.

Estônia monta obstáculos à 'guerra híbrida' com a imigração ilegal feita pela Rússia
Estônia monta obstáculos à 'guerra híbrida' com a imigração ilegal feita pela Rússia
Durante a crise migratória de 2015, milhares de migrantes isentos de visto cruzaram a fronteira entre a Rússia e a Noruega de bicicleta.

O influxo foi visto pelos especialistas como uma tentativa de desestabilização enquanto, do lado russo, é difícil entrar na zona fronteiriça, vigiada de perto pelo FSB (Segurança do Estado Russo), sem autorização.

Por sua vez, o ministro do Interior da Estônia acusou a Rússia de promover uma “manobra de ataque híbrido” enviando migrantes para o seu território, noticiou “Le Monde”.

A declaração teve lugar após cerca de trinta migrantes, principalmente da Somália e da Síria, tentar entrar na Estônia através do ponto de passagem de Narva, na fronteira com a Rússia. Todos foram rejeitados.

Polícia polonesa bloqueia migrantes usados como armas de 'guerra híbrida'
Polícia polonesa bloqueia migrantes usados como armas de 'guerra híbrida'
A Estônia está pronta para fechar as suas fronteiras se “a pressão migratória da Rússia se intensificar”, disse um porta-voz do ministro, Lauri Läänemets.

“Infelizmente, há muitos sinais de envolvimento de agentes e talvez outras agências fronteiriças russos”, disse. E acrescentou:

“Francamente, a atual pressão migratória na fronteira oriental da Europa é uma manobra de ataque híbrido”.

A agência Reuters pediu esclarecimentos às autoridades russas nas não recebeu resposta.

A situação na fronteira entre a Estônia e a Rússia é “semelhante” à enfrentada pela Letônia e pela Lituânia nas suas fronteiras com a Bielorrússia, acrescentou o ministro do Interior estônio.

Migrantes asiáticos e norteafricanos trazidos pela Bielorussia tentam pular a fronteira da Polônia
Migrantes asiáticos e norteafricanos trazidos pela Bielorussia tentam pular a fronteira da Polônia
Crise de maiores proporções já estourara na fronteira da Polônia, mas a pressão cessou após Varsóvia mostrar a firme determinação de não se deixar invadir pelos “migrantes” teleguiados.

Esses países bálticos e a Polônia acusam a Bielorrússia de ter estimulado a passagem de milhares de migrantes do Médio Oriente e de África desde 2021.

Os casos em curso no norte europeu levantam suspeitas sobre uma mão russa nos fluxos norteafricanos para a Europa através do Mediterrâneo.



"Guerra híbrida nas fronteiras da Finlândia




domingo, 19 de novembro de 2023

Má compra: helicópteros russos não conseguem voar

Helicópteros foram comprados da Rússua por simpatia ideológica e agora não funcionam mais
Helicópteros foram comprados da Rússia por simpatia ideológica
e agora não funcionam mais
Luis Dufaur
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O populismo esquerdista argentino fez tudo para fortalecer as relações com a ditadura de Putin, e entre outras coisas, lhe comprou helicópteros Mi-171E que prometiam serem máquinas fortes e versáteis para a Antártica, mas que hoje não servem nem para canibalizar como peças sobressalentes, relatou “Clarín”.

Em 2016 o governo de Mauricio Macri, oposto ao anterior, pensou comprar mais helicópteros da Rússia, mas fugiu do preço de 10 milhões de dólares cada.

Os aparelhos não voam há três anos e um foi desmontado em 2021. Em 2022 o outro ainda era ligado para que seu motor não expirasse embora inutilizável. Eles substituíram helicópteros Chinooks e Bells dos EUA movidos pelo caráter simbólico-ideológico pró-russo do contrato.

A Argentina pensou em desmontar os helicópteros e levar motores, hélices, pás e outras peças para a Rússia, mas tudo parou numa imensa burocracia e o vizinho não pagou pela impossibilidade de encontrar interlocutores na Rússia.

Washington aprovou a transferência de 24 aeronaves F-16 em uso pela Dinamarca e mais 4 aviões P-3C Orion, em uso pela Noruega, mas o governo argentino esquerdista está atrasando a compra porque desejaria adquirir JF 17 Thunder chineses nada confiáveis, mas de procedência comunista.

O nacionalismo argentino lulochavista não quer qualquer cooperação sensível com os EUA, nem mesmo quando esse é governado por uma administração esquerdista como a de Biden.