domingo, 16 de março de 2025

Sacerdote bielorrusso condenado por criticar ditador putinista local

Padre Henrykh Akalatovich preso por criticar Lukashenko
Pe Henrykh Akalatovich preso por criticar Lukashenko
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






O Pe. bielorrusso Henrykh Akalatovich, de 64 anos foi condenado a 10 anos de prisão acusado de alta traição por criticar publicamente o governo comunista subserviente do ditador Putin através do ditador local Alexander Lukashenko posto em funções em 1994, há mais de três décadas por Moscou, segundo se depreende de informações de “Infovaticana”.

Esta é a primeira vez que um membro do clero católico recebe uma sentença de prisão desde a queda da Uniao Soviética e a tapeativa “independência” da Bielorrússia em 1991.

Na Bielorrússia, a luta contra a fidelidade à Igreja Católica se desenvolve num contexto de intensificação da repressão política, acentuada pela perspectiva de eleições presidenciais nas quais o ditador Lukashenko garantu um sétimo mandato, com clamorosas fraude, como de costume.

Segundo o Centro de Direitos Humanos de Viasna, o Pe. Akalatovich foi incluído na lista de 1.265 figuras políticas do país opostas ao regime putinista.

A organização denunciou que a sentença buscava intimidar os demais padres, que ouviam uma das poucas vozes críticas ao regime partindo do Pe. Akalatovich.

Ele ficou famoso por seus sermões críticos pronunciados em sua paróquia em Valozhyn, no oeste do país, e que adquiriram merecida repercussão no país.

O sacerdote foi detido em novembro de 2023. Acontecia que lhe fora diagnosticado câncer e passou por uma cirurgia, o que aumentou a preocupação geral sobre sua saúde na prisão.

Desde que foi detido pela polícia política que conserva o nome de KGB, modelada pelo sinistro homólogo de Moscou, ele ficou incomunicável, e as autoridades prisionais foram forçadas a armazenar as roupas e alimentos que seus admiradores lhe enviavam.

O porta-voz da Viasna, Pavel Sapelka, descreveu a sentença como uma tentativa de “silenciar e intimidar” dissidentes, especialmente em um momento crucial para o futuro político do país.

O Pe. Henrykh engrossou a legião dos dissidentes mártires que sofrem nas prisões putinistas.



domingo, 23 de fevereiro de 2025

Agentes de Putin estimulam o caos global

Putin por trás de onda de atentados no Ocidente
Putin por trás de onda de atentados no Ocidente
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Ken McCallum, chefe da MI ('MI5, a agência de segurança interna e contrainteligência da Grã-Bretanha’) alertou que como produtos da ameaça representada pela Rússia “nós vimos incêndio, sabotagem e muito mais: ações perigosas conduzidas com crescente imprudência”, registrou uma longa e documentada reportagem da revista “The Economist” de Londres.

“O GRU (agência russa de inteligência militar) em particular, prosseguiu está desenvolvendo uma missão contínua para gerar caos nas ruas britânicas e europeias”, disse McCallum.

As outras agências de inteligência europeias estão igualmente preocupadas, acrescentou.

Em 14 de outubro, Bruno Kahl, chefe de espionagem da Alemanha, disse que as medidas secretas da Rússia haviam chegado a um “nível anteriormente invisível”.

Em seu apoio, Thomas Haldenwang, chefe dos serviços de inteligência domésticos da Alemanha, confirmou aos legisladores germanos que um ato russo de sabotagem quase causou um acidente de avião no início deste ano, e advirtiu que o “comportamento agressivo” dos espiões russos estava colocando vidas em risco.

A atividade de sabotagem aumentou com a guerra da Rússia na Ucrânia e foi num crescendo de agressão, subversão e intromissão em outros lugares. Em particular, na Europa cresceu dramaticamente.

“Vemos atos de sabotagem acontecendo na Europa agora”, disse por sua vez o vice-almirante Nils Andreas Stensones, chefe do Serviço de Inteligência da Noruega.

E Sir Richard Moore, o chefe do MI 6, a agência de inteligência estrangeira da Grã-Bretanha, colocou mais francamente: “Os serviços de inteligência russos foram um pouco selvagens, francamente”.

Os homens do Kremlin atentam contra interesses ocidentais emvários estados africanos. Os serviços de segurança da Polônia detetaram que hackers russos já tentaram paralisar o país nas esferas política, militar e econômica.

Os propagandistas russos, agindo em outra frente de ataque, têm bombeado desinformação em todo o mundo.

As forças armadas de Putin querem colocar uma arma nuclear em órbita. A política externa russa há muito alimenta o caos. Agora parece apontar para pouco mais.

Em abril de 2024, a Alemanha prendeu dois cidadãos germano-russos enquanto planejavam ataques contra instalações militares americanas e outros alvos instruídos pela GRU.

Ken McCallum, chefe da contraespionagem inglesa nos vemos atentados e sabotagens perigosas com crescente imprudência'
Ken McCallum, chefe da contraespionagem inglesa:
nós vemos atentados e sabotagens perigosas com crescente imprudência
No mesmo mês, a Polônia prendeu um homem que ia passar informações para o GRU sobre um centro de armas para a Ucrânia.

E, no mesmo mes, a Grã-Bretanha prendeu vários homens por um ataque incendiário a uma empresa de logística de propriedade ucraniana em Londres. Eles seriam agentes do Grupo Wagner, agora sob o controle do GRU.

Em junho, a França prendeu um russo-ucraniano ferido enquanto montava uma bomba em seu quarto de hotel em Paris.

Em julho, descobriu-se que a Rússia havia conspirado o assassinato de Armin Papperger, chefe da Rheinmetall, a maior empresa de armas da Alemanha.

Em 9 de setembro, o tráfego aéreo no aeroporto de Arlanda, em Estocolmo, foi fechado por mais de duas horas depois que drones foram vistos sobre as pistas. “Foi um ato deliberado”, disse um porta-voz da polícia.

Por sua vez, autoridades americanas alertam que os navios russos estão mapeando os cabos subaquáticos dos quais dependem a comunicação ocidental.

A Rússia também procura agitar com golpes de guerra psicológica. Por exemplo, a inteligência francesas diz que a Rússia despachou caixões envoltos na bandeira francesa com a mensagem “Soldados franceses da Ucrânia” encontrados na Torre Eiffel em Paris.

Muitas dessas ações visam atiçar a oposição à ajuda à Ucrânia. Mas outras se destinam simplesmente a ampliar divisões de todos os tipos na sociedade, mesmo sem ligação com a guerra.

Thomas Haldenwang, da Alemanha ' o 'comportamento agressivo' dos espiões russos coloca vidas em risco'
Thomas Haldenwang, da contraespionagem da Alemanha:
o 'comportamento agressivo' dos espiões russos coloca vidas em risco'
A França diz que o Kremlin promoveu um grafite de 250 estrelas de David nas paredes de Paris para alimentar o antissemitismo a propósito do conflito Israel-Hamas.

Em abril, hackers ligados ao GRU teriam manipulado sistemas de controle de centrais de água potável nos EUA e na Polônia.

Os esforços cibernéticos do GRU, não visam só a espionagem, mas também “daninficar a reputação” e destruir dados.

Oficiais do GRU foram instruir os houthis, grupo islâmico que ataca navios no Mar Vermelho, e lhes ofereceu armas. Putin visa estender a guerra da Rússia de forma mais ampla.

“Putin tenta nos atingir em todos os lugares”, argumenta Fiona Hill, que foi a principal autoridade no Conselho de Segurança Nacional dos EUA, a respeito da Rússia. A estratégia se condensaria na frase “tudo em todos os lugares ao mesmo tempo”.

Em maio, Avril Haines, diretor de inteligência nacional dos EUA, chamou a Rússia de “a ameaça externa mais ativa às nossas eleições” acima da China ou do Irã.

Não se tratava apenas de tentar moldar a política dos Estados Unidos sobre a Ucrânia, Moscou quer “um meio de derrubar os EUA” que ela tem em conta de adversário primário.

Em julho, as agências de inteligência americanas estavam vendo “a Rússia atingir dados demográficos dos eleitores, promover narrativas divisivas e denegrir políticos específicos”.

Os atentados e sabotagens no Báltico estão recrudescendo
Os atentados e sabotagens no Báltico estão recrudescendo
Esses esforços são geralmente brutos e ineficazes, comentou “The Economist”, mas não por isso não deixam de deixar prolíficas e intensas sequelas.

Em setembro, o Departamento de Justiça dos EUA condenou dois funcionários da RT, uma mídia controlada pelo Kremlin que regularmente vomita teorias da conspiração sinistras. Eles teriam pago US $ 10 milhões à Tenet Media, empresa do Tennessee para produzir quase 2.000 vídeos no TikTok, Instagram, X e YouTube. O Departamento também apreendeu 32 domínios de internet controlados pelo Kremlin, projetados para imitar sites de notícias legítimos.

A CopyCop, rede de sites, pega artigos de notícias legítimos e usou o Chat GPT, um modelo de IA, para reescrevê-los.

Mais de 90 artigos franceses foram modificados com o alerta: “Por favor, reescreva este artigo tomando uma posição conservadora contra as políticas liberais do governo Macron em favor dos cidadãos franceses da classe trabalhadora”.

As campanhas de desinformação russas não são novas, reconhece Sergey Radchenko, historiador da política russa, apontando episódios como o memorando de Tanaka, uma falsificação soviética usada para desacreditar o Japão em 1927.

Também houve tropas soviéticas lutando no Iêmen, disfarçadas de egípcias, no início dos anos 1960, e os antecessores e sucessores da KGB mataram muitas pessoas no exterior, de Leon Trotsky a o ex-espião Alexander Litvinenko.

As artérias informáticas e energéticas ocidentais estão sendo alvejadas
As artérias informáticas e energéticas ocidentais estão sendo alvejadas
A parte genuinamente nova, diz Radchenko, “é que, antes as operações apoiavam a política externa, mas hoje são a política externa”. A acao atual lembra mais a política externa niilista de Mao durante a Revolução Cultural da China do que o pensamento da União Soviética na guerra fria. Hill a define assim: “é Trotsky sobre Lênin”.

Putin abraça essas ideias. “Estamos provavelmente na década mais perigosa, imprevisível e, ao mesmo tempo, mais importante desde o fim da Segunda Guerra Mundial”, disse o ditador no final de 2022. Na ocasião, ele invocou um artigo de Lenin em 1913 preparador da Revolucao bolchevista: “esta é uma situação revolucionária”.

“Neste momento, há mudanças como as que não vemos há 100 anos”, disse Xi Jinping a Putin em 2023 em Moscou, “e somos nós que impulsionamos essas mudanças juntos”.

A estratégia conjunta se apresenta como quem “não se considera um inimigo do Ocidente... e não tem más intenções”, mas de fato é o contrário. E atiça uma “campanha de informação ofensiva” nas “esferas militares-políticas, econômicas e informacionais-psicológicas” para “enfraquecer os adversários da Rússia”.

Essa estratégia da Rússia não é imparável e até fracassou em alguns países. A subversão russa pode ser interrompida, diz Sir Richard, identificando os oficiais de inteligência e os representantes criminais por trás dela.

Moscou por trás das sabotagens no Mar Báltico usando uma 'frota fantasma'. Mais ataques no Ocidente seriam 'iminentes'
Moscou por trás das sabotagens no Mar Báltico usando uma 'frota fantasma'.
Mais ataques no Ocidente seriam 'iminentes'
Acresce que a Rússia depende cada vez mais de criminosos porque espiões russos mais qualificados foram expulsos em massa da Europa. E a Rússia dá sinais de desespero, diz McCallum.

Putin está verdadeiramente impulsionado por um espírito revolucionário, convencido de que o Ocidente é um edifício podre, isso sugere que ousará cruzar “linhas vermelhas” nos meses à frente.


domingo, 9 de fevereiro de 2025

“Estamos convidando a III Guerra Mundial” a Europa, alerta general francês

A Europa está 'convidando Rússia à III Guerra Mundial'
A Europa está 'convidando Rússia à III Guerra Mundial'
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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O general Michel Yakovleff, até pouco chefe do Estado-Maior de um dos três quartéis-generais da OTAN, depôs na TV francesa LCI que na Europa reina um silêncio ensurdecedor enquanto lhe tremem as pernas. Assim está convidando a Rússia para provocar a Terceira Guerra Mundial.

Os líderes políticos europeus falam de linhas vermelhas que não permitirão que o Kremlin transgrida, mas não fazem nada diante das transgressões constantes de Putin. Agindo assim “o convidamos à agressão todos os dias”.

Não basta fazer o suficiente esforço em matéria orçamental em favor do exército, continuou.

O mais importante é promover um esforço social para tirar a população europeia do estado de espírito pacifista voltado exclusivamente para o bem-estar.

Segundo o general, a sociedade europeia, e não apenas a francesa, deve perceber não só que a guerra regressou ao continente, mas que o alvo de Putin não é apenas a Ucrânia mas é toda a Europa.

“A Ucrânia é um pretexto, o alvo somos nós”, insistiu. O establishment político e econômico forjou a narrativa de que avançaríamos numa sempre e nova constante escalada da felicidade.

O Kremlin sacrifica imensa quantidade de homens enquanto os políticos europeus só pensam no bemestar
O Kremlin sacrifica imensa quantidade de homens
enquanto os políticos europeus só pensam no bem-estar
Foi uma perspectiva enganosa e “precisamos acordar já” dela, explicou. A União Europeia “só precisa de uma classe política mais consciente”, prosseguiu.

Mas, nenhum membro da classe política francesa está no modo de despertar. Eles continuam a discutir coisas mesquinhas, despreocupados com o que estava acontecendo ao seu redor.

“Sinto que estou gritando no deserto, mas não sou o único, agora precisamos de uma mudança de cultura”, explicou o experimentado general.

Os iranianos fornecem mísseis balísticos à Rússia e os norte-coreanos lhe fornecem soldados enquanto os europeus continuam tomados pela “falta de reação” psicológica.

O general Yakovleff alertou para o início de “uma nova etapa na internacionalização do conflito”. E não é uma mudança na lógica de Putin.

Se a Ucrânia cair sofrer uma catástrofe os russos virão molhar suas botas nos rios da Europa.

O verdadeiro objetivo de Putin não é a Ucrânia, é dominar a Europa 1280
O verdadeiro objetivo de Putin não é a Ucrânia, é dominar a Europa
Dizem que Donald Trump abandonaria a Ucrânia. Se for assim, Putin avançará sobre a Polônia, os países bálticos e a Escandinávia.

Putin quer sobre tudo que a NATO entre em colapso sem o financiamento americano.

Nesse dia, quando não houver mais NATO, a Europa não terá mais garantias coletivas e Putin poderá intimidar a cada um dos países do continente sem aplicar muita força militar.

Pedirá à Estônia ou à Finlândia, mesmo à Alemanha, simplesmente uma submissão um por um, sem necessidade de uma invasão física.

E Donald Trump disse coisas muito claras aos europeus: ou assumem suas despesas ou a NATO está acabada.

Os processos de rearmamento europeu começaram após décadas de contração dos respectivos exércitos e esses agora estão tão baixo que seu primeiro objetivo é evitar mais afundamentos.

OTAN  'linhas vermelhas' não passam de lindas palavras,  que não são levadas a sério
OTAN:  'linhas vermelhas' não passam de lindas palavras,
que não são levadas a sério
“A verdade é que o barco continua a afundar”
, a França é uma exceção mas, o que está fazendo é preencher lacunas cinco anos antes do que os outros.

“Nós, franceses, estamos falando de rearmamento, de novos equipamentos, de desenvolvimento industrial armamentista, mas os outros países ainda não estão falando nem em rearmamento”, voltou a alertar.

Putin vem semeando a desunião dos europeus desde 2014. A esperança está num despertar para as manobras que o Kremlin. Esse manipula nos países europeus forças políticas que se dizem “conservadoras”, mas que trabalham em seu favor.

Aliás como fez Hitler na II Guerra Mundial.


domingo, 26 de janeiro de 2025

Rússia sabota os cabos submarinos da Internet

O Eagle S, suspeito de trabalhar para a 'frota fantasma' da Rússia
O Eagle S, suspeito de trabalhar para a 'frota fantasma' da Rússia
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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A Rússia está sabotando os cabos submarinos da Europa com uma organização de estilo “paramilitar”, disse James Appathurai, Secretário-Geral Adjunto para a Inovação Híbrida e Cibernética da NATO.

Essa é “a ameaça mais ativa” para as infraestruturas ocidentais, disse o especialista senior da NATO no Europe Conversation da Euronews.

Appathurai acha que os recentes ataques aos cabos de comunicação por parte da Rússia mostram um crescimento significativo das interferências cibernéticas, híbridas e outras que Moscou pratica contra a Europa.

No início de novembro (2024), foram cortados dois cabos no Mar Báltico entre a Suécia e a Lituânia, e outro entre a Alemanha e a Finlândia, o que alarmou a NATO, vistas as características de sabotagem.

“Há décadas os russos têm um programa de Investigação Submarina, que é uma estrutura paramilitar, muito bem financiada, que mapeia todos os nossos cabos e dutos de energia”, alertou Appathurai.

Eles usam “navios de investigação”, pequenos submarinos, veículos não tripulados operados remotamente, mergulhadores e explosivos, disse ele à agência de informações Euronews da UE.

Ninguém acredita que os cabos tenham sido danificados acidentalmente. Também não quero acreditar que as âncoras dos navios tenham causado os danos por acidente”, disse o ministro alemão da Defesa, Boris Pistorious, se referindo às escusas do Kremlin.

Como se corta um cabo submarino de internet
Como se corta um cabo submarino de internet
O Ministro da Defesa finlandês, Antti Häkkänen, diz que a NATO deve fazer muito mais para defender as infraestruturas críticas do Ocidente, enquanto que a Suécia está investigando a ruptura dos cabos.

A Rússia está atacando sistematicamente a arquitetura de segurança europeia”, denunciaram os ministros dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, França, Polônia, Itália, Espanha e Reino Unido numa declaração conjunta.

A escalada das atividades híbridas de Moscou contra os países da NATO e da UE não tem precedentes na sua variedade e escala, criando riscos de segurança significativos”, lê-se no documento.

Cerca de 90% dos dados de comunicações digitais do mundo passam pelos cabos submarinos, além de cerca de 10 bilhões de euros em transações financeiras. As infraestruturas submarinas críticas incluem conectores de eletricidade e dutos que fornecem petróleo e gás vitais para os países europeus.

Segundo Appathurai, os ciberataques, a desinformação e a interferência política russa estão aumentando “em maior escala do que era anteriormente. Há um novo apetite russo na campanha de sabotagem”, disse.

“Isso significa atentados incendiários, descarrilamento de comboios, ataques a propriedades de políticos, tentativas de assassinato, por exemplo, o chefe da Rheinmetal” o maior fabricante alemão de armas, que fornece à Ucrânia importantes cartuchos de artilharia de 155 mm.

O plano de assassinato do industrial foi frustrado pelos serviços secretos norte-americanos. Mas, fazia parte de um plano mais vasto para atingir os líderes da indústria de defesa que abastecem a Ucrânia.

Guarda Costeira finlandesa investiga petroleiro russo perto de Porkkalanniemi
Guarda Costeira finlandesa investiga petroleiro russo
perto de Porkkalanniemi
A polícia finlandesa e os guardas de fronteira detiveram o petroleiro Eagle S. O navio navegava sob a bandeira das Ilhas Cook e faz parte da “frota fantasma” para ajudar a Rússia a escapar das sanções internacionais.

“Revistamos o navio, falamos com a tripulação e coletamos provas”, disse Robin Lardot, da agência nacional de investigação finlandesa pois o navio foi detido em águas territoriais finlandesas.

Em 25 de dezembro foi desconectada a conexão de corrente contínua EstLink 2 entre a Finlândia e a Estônia. As suspeitas rapidamente se concentraram no Eagle S, que havia partido do porto russo de São Petersburgo.

O governo da Estônia fez uma sessão de emergência sobre o incidente. Os petroleiros paralelos “estão ajudando a Rússia a obter fundos que ajudarão a seus ataques híbridos, disse a primeira-ministra Kristen Michal em entrevista coletiva.

“Os danos repetidos nas infraestruturas do Mar Báltico indicam uma ameaça sistémica, e não meros acidentes”, acrescentou o presidente da Estônia, Alar Karis, em X.

Hipótese semelhante de sabotagem foi levantada em novembro de 2023, depois de um gasoduto submarino entre a Finlândia e a Estônia ter sido danificado. A investigação policial finlandesa apontou a causa na âncora do porta-contentores New Polar Bear, que navegava sob bandeira de Hong Kong.

Por sua vez, o navio de carga russo “Ursa Major” afundou no Mediterrâneo depois que uma estranha explosão na sua casa de máquinas, anunciou o Ministério das Relações Exteriores da Rússia, noticiou “La Nación”.

A catástrofe iminente dos cabos submarinos
A catástrofe iminente dos cabos submarinos
O navio, construído em 2009, era controlado pela Oboronlogistika, empresa que faz operações de construção militar do Ministério da Defesa da Rússia e que já dizia ao porto de Vladivostok, no extremo leste da Rússia, com dois gigantescos guindastes portuários.

A Oboronlogistika e a SK-Yug, empresas proprietárias e operadoras do navio, foram sancionadas pelos EUA em 2022 pelos seus laços com os militares russos.

O navio fora filmado previamente inclinando-se fortemente para estibordo, e mais provavelmente se dirigia a Tartus para evacuar equipamento militar.

O Serviço de Resgate Marítimo da Espanha recebeu um sinal de socorro do “Ursa Maior” quando estava a 92 quilômetros de Almeria.

A tripulação disse que o navio transportava contentores vazios, e dois guindastes portuários. Após os barcos de resgate chegou um navio de guerra russo e assumiu as ações, no âmbito da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar.

Assim, o “Ursa Maior” foi ao fundo do mar sem revelar tudo o que levava.



domingo, 8 de dezembro de 2024

Soldados norte-coreanos vítimas da inanição

A desnutrición cresce entre os militares (foto tirada desde a fronteira chinesa)
A desnutrição cresce entre os militares (foto tirada desde a China)
Luis Dufaur
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A ASIAPRESS continua a receber relatos de várias áreas da Coreia do Norte sobre um aumento dramático dos soldados famintos devido à redução do fornecimento de alimentos para bases militares.

A fonte desses relatórios são soldados reenviados para casa devido à desnutrição. A ASIAPRESS realizou uma pesquisa sobre as condições nas bases na parte norte do país em meados de setembro.

Os parceiros de reportagem se reuniram com soldados enviados para casa por desnutrição. Assim obteriam melhor controle sobre as realidades da fome dentro das forças armadas.

Um parceiro de reportagem (“A”) na província de Yanggang disse à ASIAPRESS :

“Houve um aumento de soldados que voltaram para casa devido à desnutrição. ... um jovem soldado que voltou depois de um período em uma base em Wonsan, província de Kangwon, disse que comia duas refeições por dia na base, e em dias sem almoços, as autoridades pularam o treinamento da tarde e fizeram os soldados tirarem cochilos.


Outro parceiro de reportagem (“B”) na província de Hamgyung do Norte, conversou com um soldado que disse à ASIAPRESS :

“Há três jovens que sofrem de desnutrição que receberam alta por razões médicas em minha unidade de vigilância. Provavelmente há mais voltando para casa para não ser desonrosamente dispensado.

Soldados clinicamente inaptos para continuar o serviço militar devido a doenças, ferimentos ou desnutrição são liberados sob um sistema chamado “gamjongjaedae”.


“B” disse à ASIAPRESS mais sobre o que ele ouviu do soldado:

“O jovem com quem falei passou um ano e meio em uma base em Jajupo, província de Hwanghae do Norte, e recentemente voltou para casa por razões médicas.

“As refeições da base eram apenas sal e milho, nem mesmo totalizando 400 gramas por dia.

“Ele me disse que ‘havia três refeições por dia, mas elas equivaliam a apenas uma refeição dividida em três refeições’.

O soldado também disse que houve um aumento tão grande de soldados famélicos que ninguém poderia ser enviado para trabalhar em fazendas durante o verão.


Outro parceiro de reportagem na província de Yanggang (“C”) disse à ASIAPRESS o seguinte:

“Os soldados não podem voltar para casa só porque precisam de tratamento médico para uma doença. A maioria dos jovens que retornaram recebeu alta temporariamente por razões médicas.

“Pais com algum dinheiro subornam os hospitais para obter um documento que confirme que seus filhos precisam ser tratados em hospitais.

“Os hospitais então informam as bases militares de onde os soldados vieram”.


Por que os soldados estão famintos durante a época de colheita?

Uma entre três crianças norte-coreanas com menos de cinco anos está desnutrida
Uma entre três crianças norte-coreanas com menos de cinco anos está desnutrida
Soldados desnutridos na Coreia do Norte não é um problema novo.

Muitos desertores que serviram nas forças armadas testemunharam sobre a falta de suprimentos de alimentos em bases militares desde o início dos anos 90.

Existem três grandes fontes de alimento fornecidas aos militares norte-coreanos.

1. Algumas das colheitas de fazendas coletivas são enviadas para bases militares. Este alimento é chamado de “arroz militar”.
 
2. Alimentos importados do exterior.
 
3. Milho e legumes cultivados por soldados em campos perto de bases militares. Esses campos são chamados de “buopji”.

 
Na primavera deste ano, o regime de Kim Jong-un ordenou que todos os “buopjis” militares fossem combinados com os campos administrados por fazendas coletivas, embora não esteja claro quantos dos campos agrícolas administrados por militares estão realmente sob gestão de fazendas coletivas.

A comida é adquirida sistematicamente pelo governo. Mas esse, no entanto, não consegue o suficiente para alimentar os soldados, o que levou a níveis crônicos de desnutrição nas forças armadas.

A partir de abril de 2024, o governo norte-coreano não conseguiu adquirir arroz branco e milho suficientes para as lojas de alimentos estatais, por isso tirou das lojas militares de alimentos para resolver rapidamente o problema.

O impacto de tudo isso é que os soldados estão sofrendo de fome, o que levou a um aumento nos crimes por eles cometidos.

A ASIAPRESS se comunica com parceiros de reportagem por meio de telefones celulares chineses contrabandeados para a Coreia do Norte.


domingo, 1 de dezembro de 2024

Suécia e Finlância preparam cidadãos para agir numa guerra

'Em caso de crisis o guerra' apresentado na Finlância
'Em caso de crise o guerra' apresentado na Finlândia
Luis Dufaur
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Os governos sueco e finlandês estão preparando a população residente em seus países para saber como agir e resistir a uma guerra total que poderia estar na iminência de acontecer enquanto Putin apronta pretextos para iniciar uma guerra geral, até nuclear.

O bem informado site “Hoje no Mundo Militar” traz um conciso resumo da última atualização do manual dee resistência para os civis em caso de invasão.

O manual sueco leva o título “Em caso de crise ou guerra”. Este manual é publicado periodicamente, mas hoje virou de máxima atualidade. Pode conferir "Em caso de crise ou guerra" (em inglês).

Com as tensões com a Rússia aumentando, a Suécia, o mais novo membro da OTAN, atualizou o guia para os seus cidadãos enfrentarem situações de grave crise ou guerra.

O manual para os residentes na Suécia (em inglês)
O manual para os residentes na Suécia (em inglês)
O guia sueco começa com as seguintes frases:

“Estoquem comida e se preparem para a guerra” e "Se a Suécia for atacada, nós nunca nos renderemos!"

O governo sueco alerta ainda que todos os cidadãos, entre os 16 e os 70 anos, poderão ser convocados para proteger o país em caso de guerra.

O guia informa o cidadão a reconhecer as sirenes de alarme e o que fazer em cada caso, dando também indicações sobre os melhores locais para se proteger em caso de ataque aéreo.

O guia também orienta as pessoas a se prepararem para períodos de escassez, indicando a estocagem de água, comida, remédios, eletricidade (baterias) e aquecimento (roupas quentes).

Estoquem comida e se preparem para a guerra
Estoquem comida e se preparem para a guerra
O guia também pede aos cidadãos que tenham dinheiro em espécie em casa para pelo menos 1 semana de gastos habituais.

Por fim, o guia dá dicas sobre o que levar em caso de ordem de evacuação. Dentre os itens estão comida e água para alguns dias, roupas quentes, alguns remédios, celular com powerbank e carregador, mapa e bússola.

O guia "Em caso de crise ou guerra" também alerta para os riscos de guerra psicológica e interferências, uma especialidade da Rússia. Segundo o guia, os suecos devem estar preparados para duvidar de "certas fontes" e pede para estarem atentos a tentativas de manipulação através de imagens, vídeos e discursos criados por Inteligência Artificial.


O manual sueco de resistência e sobrevivência numa guerra próxima



domingo, 24 de novembro de 2024

Internacionalização da guerra põe o mundo em vilo

Um dos primeiros solldados norcoreanos capturados por Ucrânia
Um dos primeiros soldados norte-coreanos
que teriam sido capturados pela Ucrânia
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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A presença de milhares de soldados norte-coreanos na Rússia fez soar tétricos alarmes de uma internacionalização da guerra na Ucrania.

A Coréia do Norte provoca fricções bélicas com vários países vizinhos, especialmente com o Japão e o ditador da Coreia do Norte estaria angariando recursos econômicos ou militares para desestabilizar ainda mais a Ásia.

Pyongyang dinamitou estradas e vias férreas que a ligam ao Sul, enquanto a Coreia do Sul anunciou que enviará instrutores e tradutores à Ucrânia, além de novos armamentos.

As unidades norte-coreanos seriam compostas por militares de carreira fanatizados por uma ideologia delirante.

Mas, as primeiras informações falam que os soldados estariam se entregando pois o que mais desejariam é fugir da ditadura de Kim jong-un.

A Rússia, entretanto, os quer como “bucha de canhão” pois suas perdas em homens foram tão elevadas que, para substitui-los, Putin precisaria de um levantamento em massa, mas a indignação potencial da população russa lhe sugere que poderia haver um levantamento popular.

Do outro lado, o projeto ucraniano “Eu quero viver” lançou sua campanha prometendo aos norte-coreanos em sua língua que se se rendem receberão asilo em campos de prisioneiros preparados para recebê-los de forma digna e segura, tratamento respeitoso, moradia, alimentação três vezes ao dia e cuidados médicos, não valendo a pena, portanto, ir à morte que está ceifando as tropas russas.

Oito oficiais norcoreanos mortos nos primeiros engajamentos
Oito oficiais norte-coreanos mortos nos primeiros engajamentos
A Rússia ao buscar reforços de regimes como o norte-coreano está sinalizando um isolamento crescente no cenário mundial.

Nesse panorama desolador, ela está enviando ao combate soldados sem treino e procura soldados no exterior. Por vezes para servir de ‘mulas’ carregadoras de material, por causa da perda de caminhões de transporte militar.

A situação desesperadora dos russos emerge com clareza vendo que unidades decisivas são aniquiladas em virtude de péssimas táticas dos seus generais brutais e impiedosos.

Um influencer russo que tem conexões diretas com seu exército fala que os comandantes jogam os soldados em ataques suicidas para se ufanar de conquistas ante os chefes de Moscou.

Encenação para propaganda de guerra de solidariedade ruso-norcoreana, logo desmentida pela trágica realidade
Encenação para propaganda de guerra de solidariedade russo norte-coreana,
logo desmentida pela trágica realidade
Os grupos de assalto sem preparo são jogados como peões numa carnificina onde morrem em poucas horas sendo substituídos por outros novatos também sem chance de sobrevivência, sem munição, sem ordens claras e sem plano estratégico.

A situação é ainda mais crítica quando se sabe que foram são enviados a missões sem retorno, militares categorizados e experientes, como são os tripulantes de submarinos ou do único porta-aviões, aliás desativado.

É tropa de elite desperdiçada em operações com baixíssima chance de sucesso mostra um desprezo dos superiores pelas baixas e dispostos a sacrificar centenas de vidas para mostrar algum progresso.

O desgaste das tropas russas se tornou evidente e indica uma ruptura da moral interna que Moscou não consegue esconder por muito tempo.

Para Putin está em jogo a estabilidade de seu governo abalada por uma oposição dentro das forças armadas e da população civil. Tanta perda de vidas provocar uma crise interna que vai além do campo de batalha.

Missil intercontinental do tipo que a Rússia teria disparado contra a Ucrânia
Míssil do tipo que a Rússia teria disparado contra a Ucrânia
Apelando a alianças questionáveis para preencher os vazios a Rússia suscita crescentes dúvidas sobre seu futuro militar. Ela prefere tudo à confessar derrota.

Mas, se essa se torna inevitável, o ditador poderia reagir de um modo imprevisível e ferozmente cruel.

A ameaça que significou o uso de míssil balístico intercontinental contra a Ucrânia (“novo míssil balístico de alcance intermédio”, segundo Putin), e que pelo seu desenho parece feito para ser jogado contra o Ocidente se montado com carga nuclear!, foi um aviso da maior gravidade.


domingo, 17 de novembro de 2024

Putin conduz mata-mata paranoico no mundo

Assassinatos sanguinários estarrecem aos dissidentes
Assassinatos sanguinários estarrecem aos dissidentes
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






As evidências dos crimes ordenados por Putin fora da Rússia estão se acumulando, registradas algumas por Lilia Yapparova, jornalista que escreve sobre a Rússia desde a Letônia para jornais americanos, citada em post anterior. Cfr: Putin persegue, sequestra e mata opositores fora da Rússia.

Suas fontes, conservadas no anonimato prudencialmente, incluem pessoas que sobreviveram a sequestros de líderes da diáspora russa em todo o mundo, segundo reportagem do “The New York Times”. “Putin Is Doing Something Almost Nobody Is Noticing” (“Putin faz coisas que quase ninguém percebe”).

Certos países anfitriões costumam ser cúmplices das redes russas, escreveu Lilia. No Cazaquistão, serviços especiais locais cooperam com a Rússia para capturar procurados, por exemplo.

No Quirguistão, a polícia usa reconhecimento facial para localizar os procurados pelo Kremlin, que devem fugir às montanhas onde não chega o sinal.

Sergei Podsytnik, jornalista que investigava ligações militares entre a Rússia e o Irã, ficou eufórico após descobrir uma fábrica de drones recém sancionada.

Quando ele retornava a sua casa em Duisburg, Alemanha viu, espreitando na esquina, um desconhecido que seguia cada movimento seu.

Repressão de Putin não conhece limites
Repressão de Putin não conhece limites
Um colega de Podsytnik também percebeu e apelaram à polícia de Duisburg que não achou possível que os agentes da Rússia operassem na sua pequena cidade.

Porém, segundo o Dossier Center, organização de pesquisa sediada em Londres, Duisburg é um centro desde onde agentes de inteligência militar russa fazem sabotagem no exterior. Podsytnik acabou recebendo proteção.

Por vezes, exilados acabam desaparecendo sem deixar vestígios. Os desaparecimentos se deram até na porta de uma embaixada na Armênia ou de uma igreja rural na Geórgia, e reapareceram em centros de detenção russos.

Em meados de 2023, grupos civis apelaram ao Parlamento Europeu para que seja regularizado o status de pessoas que se recusaram a lutar no exército de Putin. Porém, não receberam resposta significativa.

Margarita Kuchusheva, advogada de imigração no Chipre conta que o asilo político é rotineiramente negado às vezes com argumentos monstruosamente falsos de que “a situação na Rússia é normal e você pode contar com um julgamento justo”.

Na Rússia, os opositores são frequentemente assassinados
Na Rússia, os opositores são frequentemente assassinados
As organizações de direitos humanos que tentam ajuda-los, estão à beira do fechamento por falta de fundos.

Mas a Rússia esbanja fundos para acusa-los de traição e terrorismo.

A perseguição é paranoica e se estende por todo o mundo.

O fato mais lancinante é a cumplicidade de governos que se fingem defensores do Direito, mas sorrateira ou escancaradamente simpatizam com os ogros do Kremlin, conclui Lilia.



domingo, 3 de novembro de 2024

Putin persegue, sequestra e mata opositores fora da Rússia

Lilia Yapparova não acreditava que Putin fosse tão ruim. A descoberta da verdade foi sinistra
Lilia Yapparova não acreditava que Putin fosse tão ruim.
A descoberta da verdade foi sinistra
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Lilia Yapparova, jornalista que escreve sobre a Rússia desde a Letônia para jornais americanos, foi aconselhada a não comprar comida pela Internet.

Ela achou exagerado mas levou a sério quando, apenas um mês depois, sua colega Elena Kostyuchenko foi envenenada na Alemanha, em tentativa de assassinato cometida pelo estado russo.

Sua reportagem foi publicada pelo “The New York Times”. “Putin Is Doing Something Almost Nobody Is Noticing” (“Putin faz coisas que quase ninguém percebe”)

Lilia conta que fatos como esses se tornaram rotina.

Em 2023, a jornalista investigativa Alesya Marokhovskaya, foi assediada na República Tcheca; e o corpo de Maxim Kuzminov, desertor russo, apareceu na Espanha crivado de balas. O Kremlin estava envolvido nos casos.

As figuras da oposição russa, acresce Lilia, sabem muito bem que, mesmo no exílio, continuam sendo alvos dos serviços de inteligência da Rússia.

Há também centenas de milhares de russos que abandonaram o país porque não queriam ser recrutados à força para a invasão de Ucrânia ordenada por Putin. Eles também são vigilados ou sequestrados.

Maxim Kuzminov não queria a guerra e abandonou seu helicóptero. Apareceu ametralhado na Espanha
Maxim Kuzminov não queria a guerra e abandonou seu helicóptero.
Apareceu metralhado na Espanha
A repressão acontece longe dos holofotes da grande mídia e, muitas vezes, com o consentimento tácito ou a prevenção inadequada dos países onde se refugiaram.

É uma coisa assustadora, diz Lilia: o Kremlin está caçando pessoas comuns em todo o mundo, e ninguém parece se importar e poucos ativistas de direitos humanos os ajudam.

Um fonoaudiólogo preso pelo governo “amigo” do Cazaquistão a pedido de Moscou que enlouqueceu em uma prisão local.

Um cuidador de idosos foi preso pela Interpol em Montenegro por ordens russas.

Uma professora foi detida por guardas na fronteira com Armenia após falar a seus alunos sobre os atrozes crimes dos soldados russos em Bucha, Ucrânia.

Um dono de loja de brinquedos, um alpinista industrial, uma roqueira punk: esses são outros casos pegos na rede do Kremlin, em todo o mundo.

No Reino Unido, os exilados que assistem a eventos anti-Putin em Londres percebem agentes “que se destacam facilmente em meio ao público”, segundo Ksenia Maximova, ativista anti-Kremlin.

Elena Kostyuchenko ama a Rússia. Criticou a Putin e a comida comprada na Internet estava cheia de veneno
Elena Kostyuchenko ama a Rússia. Criticou a Putin
e sua comida comprada na Internet chegou cheia de veneno
Oficiais de inteligência russos monitoram as diásporas na Alemanha, Polônia e Lituânia, diz Evgeny Smirnov, advogado especializado em casos de traição e espionagem.

Já houve emigrados russos perseguidos e ameaçados em Roma, Paris, Praga e Istambul.

Alguns métodos são pérfidos, escreve Lilia. Lev Gyammer, ativista exilado na Polônia, recebe mensagens de texto há dois anos, de sua mãe muito aflita pela sua ausência e que clama por seu retorno. Só que a mãe de Lev, Olga, morreu há cinco anos.

Outro expatriado russo na Finlândia cujos pais são muito idosos e doentes acreditou no telefonema da cuidadora sobre um incêndio no apartamento dos pais.

Ele foi correndo e acabou sendo levado para a prisão e torturado. Nunca houve incêndio nenhum, foi enganação mortal da polícia secreta.



domingo, 20 de outubro de 2024

Padres católicos presos e torturados pelos russos como na era comunista

Padres Ivan Levitsky e Bohdan Geleta, fotografados ainda em prisão russa
Padres Ivan Levitsky e Bohdan Geleta, fotografados ainda em prisão russa
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Os padres católicos ucranianos redentoristas Ivan Levitsky e Bohdan Geleta reapareceram em imagens publicadas pela Igreja Greco-Católica Ucraniana (IGCU).

Segundo essa fonte, as fotos foram obtidas quando os dois sacerdotes ainda estavam detidos numa prisão russa, informou o “Catholic Standard”.

Os sacerdotes foram presos por soldados russos em Berdyansk, na Ucrânia, em novembro de 2022, e recentemente foram libertados, segundo anunciou o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em junho de 2024.

O padre redentorista Bohdan Geleta contou na Zhyve TV, canal de televisão da Igreja Greco-Católica Ucraniana, que ele e seu colega redentorista, o Pe. Ivan Levitsky, tiveram sua paróquia Igreja da Natividade do Santíssimo Theotokos em Berdyansk, invadida por soldados russos que os levaram pela força.

A Igreja Católica nunca soube onde estavam reclusos nem as condições exatas em que viviam durante a maior parte dos 18 meses de cativeiro, mas reapareceram muito emagrecidos e com a cabeça rapada numa troca de prisioneiros.

O Pe. Geleta confirmou que foram sujeitos a tortura psicológica e física segundo informou o Arcebispo-mor católico ucraniano Sviatoslav Shevchuk.

Após a ocupação russa da cidade, os dois sacerdotes continuaram celebrando a Divina Liturgia, rezando e acolhendo refugiados, disse o Pe. Geleta.

No entanto, um carro marcado com a letra “Z”, símbolo das tropas invasoras na Ucrânia, circundou ameaçadoramente a Igreja “diversas vezes” até que prenderam o Pe. Geleta que se preparava para celebrar a Divina Liturgia, e o Padre Levitsky que ia para uma reunião de oração ao ar livre.

Os militares entraram na igreja mascarados e armados e ordenaram irem com eles sem outra explicação senão a ameaça dos fuzis.

O Pe. Geleta tirou os paramentos e foi levado para o local de detenção preventiva central em Berdyansk.

Foram acusados de não terem pedido autorização às autoridades para rezar na cidade. A acusação é típica das forças de ocupação russas na Ucrânia.

Essas suprimem todas as religiões, exceto os ‘popes’ obedientes ao Patriarcado de Moscou que servem aos ditadores do Kremlin.

Os russos destroem casas de culto, prendem, torturam e matam clérigos e estabeleceram leis para restringir a prática religiosa que não sirva à propaganda de Putin.

Na região de Zaporizhia, os ocupantes proibiram a Igreja Católica, os Cavaleiros de Colombo e a Caritas, braço humanitário oficial da Igreja Católica mundial.

O Pe. Geleta e o Pe. Levitsky, foram mantidos separados em celas úmidas onde “podiam ouvir gritos provenientes dos corredores”, enquanto os prisioneiros eram torturados.

Um companheiro de cela do Pe. Geleta levou choques elétricos e foi obrigado a aprender o hino nacional russo, sob ameaça de execução.

Os carrascos queriam que os padres cooperassem com a polícia política de Putin, a FSB, que tenta recrutar líderes religiosos para torná-los propagandistas do domínio da Rússia nas zonas ocupadas da Ucrânia.

“Mas nós recusámos”, disse o Pe. Geleta.

Os inquisidores “não gostavam da palavra ‘guerra’”, preferindo o eufemismo do Kremlin, “operação militar especial”, para descrever os seus ataques à Ucrânia.

Esse é um capricho de Putin, mas a invasão foi qualificada até genocídio, segundo grandes relatórios do New Lines Institute e do Centro Raoul Wallenberg para os Direitos Humanos.

Os raptores acusaram falsamente os padres de armazenarem armas na sua Igreja, pelo que seriam julgados e condenados a 25 anos de prisão.

Foram então transferidos para a colônia penal russa n.º 77 em Berdyansk.

O Pe. Geleta foi trancado numa cela solitária com um alto-falante que “tocava canções soviéticas durante o dia todo. Nessa altura, percebi como é que uma pessoa enlouquece, percebi porque é que as pessoas se suicidam”, disse ele.

“O Senhor Deus ajuda e dá força através da oração. Deus, Jesus Cristo, Maria e os anjos estavam todos presentes. A oração era a salvação. E, como eu estava a dizer, senti a oração da Igreja”.

Os padres foram transferidos algemados e vendados, com sacos na cabeça para outra colônia penal em Horlivka, Donetsk, onde os prisioneiros eram “maltratados quase todos os dias (…) a admissão era muito terrível, muito cruel”, disse o religioso.

Os combatentes do regimento Azov da Ucrânia e os civis que desafiaram a ocupação russa de Mariupol foram “lá muito maltratados”, contou.

Os padres (com a bandeira ucraniana) apenas libertados de prisões e torturas recebidos pelo Núncio Apostólico
Os padres (com a bandeira ucraniana) apenas libertados de prisões e torturas
recebidos pelo Núncio Apostólico
Os padres foram abusados várias vezes. “O Pe. Ivan foi espancado tão severamente que perdeu a consciência duas vezes”, lembrou o padre Geleta.

Durante as torturas o sacerdote “lembrou-se de Jesus Cristo, da Sua Cruz, do Seu sofrimento. “E foi uma força e uma graça tão grandes que eu dizia: Senhor, eu posso sofrer contigo”, disse ele.

Ele e o Pe. Levitsky partilharam a mesma cela durante apenas 15 dias dos 10 meses de prisão em Horlivka, onde estavam detidos cerca de 2.000 prisioneiros de guerra.

“Tivemos a oportunidade de conhecer muitas pessoas” que “contaram-nos muitas coisas e estavam à procura de ajuda espiritual”, acrescentou o Pe. Geleta.

No cárcere, o sacerdote organizou reuniões de oração de manhã e à noite, lendo a Bíblia e recitando o Pai-Nosso e a Ave Maria pelas intenções dos prisioneiros.

Também pôde ouvir confissões e sentiu que “toda a Igreja” rezava pela libertação dos sacerdotes.

Os russos consideram os católicos da Igreja Greco-Católica Ucraniana como “uma seita que se separou da Ortodoxia” pelo que os seus sacerdotes devem ser “erradicados, isolados da sociedade e purificados”.

Católicos assistindo Missa nas jornadas da Praça Maidan
Católicos assistindo Missa nas jornadas da Praça Maidan
Os captores louvam a Deus segundo os ritos da ‘igreja ortodoxa russa’ enquanto batem nas pessoas. “É um fanatismo religioso.”, contou o sacerdote.

“Sofremos e carregámos esta cruz com os prisioneiros que lutaram por uma Ucrânia livre, para estar perto de Deus, da salvação do Senhor”, disse.

O Pe. Geleta exortou às famílias, mães, esposas, que têm filhos, pais e irmãs em cativeiro, a não perderem a esperança, que rezem, que se voltem para Deus.

“O Senhor Deus através destes sofrimentos conduz todos até Si. Caso contrário, uma pessoa poderia não suportar aquilo”, explicou o sacerdote torturado, mas no fim libertado.