domingo, 21 de agosto de 2016

Concílio cismático “ortodoxo” não pôde se reunir
e frustrou plano de Putin

É do interesse da 'nova Rússia' que o Patriarca de Moscou seja tido como chefe máximo dos cismáticos 'ortodoxos'
É do interesse da 'nova Rússia' que o Patriarca de Moscou
seja tido como chefe máximo dos cismáticos 'ortodoxos'
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Na história da Igreja já houve muitos cismas, ou seja, setores da Igreja presididos por Bispos e até por Patriarcas que se separaram da Santa Sé, desconhecendo sua autoridade, jurisdição e obediência.

O maior deles foi o do Oriente, operado em 1054 e encabeçado por Miguel Cerulário, então Patriarca de Constantinopla (hoje Istambul). Ele arrastou consigo muitos bispos do Oriente, que costumam ser chamados de “ortodoxos”.

Houve então pretextos teológicos relacionados com a doutrina da Santíssima Trindade. Com o tempo, a divergência inicial foi se agigantando e abrindo um abismo com novos erros, heresias e desordens canônicas insondáveis.

Tendo recusado a autoridade suprema do Papado, os cismáticos “ortodoxos” não demoraram em recusar a autoridade uns dos outros. Assim geraram eles igrejas horrivelmente brigadas entre si, por vezes presididas por patriarcas fraudulentos. Essas “igrejas ortodoxas” hoje são quase mil!

O Patriarcado de Moscou resulta de uma dessas rachaduras indisciplinadas e heréticas. Foi criado em 1589 pelo czar Teodoro I da Rússia, que queria um apoio religioso para expandir seu império até o Mediterrâneo.

Dito Patriarcado foi suprimido pelo czar Pedro o Grande em 1721. Foi reconstituído na sua forma atual em 1917 no ambiente da Revolução Comunista de Lênin.

Desde então ele foi servindo ao ditador marxista de turno que o fechou em 1925 porque o Patriarca Tikhon manifestou desacordo com o massacre de religiosos e até teria se mostrado favorável aos "russos brancos" contrários aos "vermelhos" socialistas.

A igreja ortodoxa russa é uma das pontas do tridente político de Putin.
A igreja ortodoxa russa é uma das pontas do tridente político de Putin.
Voltou a ser restaurado por Stalin em 1943, após os líderes “ortodoxos” jurarem fidelidade absoluta ao regime e aos interesses soviéticos. Stalin precisava deles para mobilizar o povo no esforço de guerra contra o invasor nazista.

Incapazes de reconhecer qualquer autoridade ou doutrina unificadora, as igrejas “ortodoxas” sempre foram dependentes do poder temporal da região ou do momento.

Vladimir Putin achou conveniente tirar o Patriarcado de Moscou da vergonhosa situação em que jazia, por ser do interesse da “nova URSS”. Mais ainda, quer constituí-lo líder de todas as igrejas “ortodoxas” do mundo.

O Patriarca Kirill, colega de Putin na (ex-)KGB, ficaria encarregado de colocar a canga moscovita sobre as “igrejas ortodoxas” que até agora estão desorganizadas constituindo um pântano em contínuo conflito.

Reunir esse amálgama de entes caóticos interessa também ao “progressismo católico” com vistas a tocar adiante o “ecumenismo”. Porque a desordem em que afundou torna impossível todo esforço de convergência religiosa relativista.

Com vantagem para uns e para outros, ficou marcada para 2016 a realização na ilha de Creta do primeiro Concílio “ortodoxo” da História. Nele se veriam as caras patriarcas, metropolitas e outros líderes cismáticos, ora amigos, ora inimigos.

Eles tentariam se por de acordo em algo, ainda que confuso e imperfeito, seja doutrinário ou disciplinar.

Mas, previamente à reunião, a delegação do Patriarcado de Moscou, obediente a Putin, apresentou condições que acabaram inviabilizando-a, como comentou o vaticanista Sandro Magister.

Também renunciaram a comparecer os patriarcados de Antioquia, da Bulgária e da Geórgia, envolvidos em desacordos irremediáveis.

Putin precisa bancar de 'ungido' pela religião cismática, que ele segura com punho de ferro!
Putin precisa bancar de 'ungido' pela religião cismática,
que ele segura com punho de ferro!
Moscou exigiu oficialmente que os Greco-católicos ucranianos e da chamada “igreja ortodoxa autocéfala” – muito presentes na América do Norte e na Ucrânia – fossem submetidos à sua autoridade.

Tal submissão teria sido um grande triunfo de Putin e uma inacreditável capitulação do Vaticano, que favorecia esse concílio pan-ortodoxo.

O vaticanista Sandro Magister reproduziu o artigo “As verdadeiras razões do naufrágio”, de autoria de Alexei Tchoukhlov, constatando o fracasso da assembleia, a única que poderia ter-se realizado em mil anos de cismas e disputas.

Segundo Tchoukhlov, os documentos pré-confeccionados estavam prenhes de lugares comuns típicos da deplorável qualidade teológica e religiosa do mundo “ortodoxo”.

No fim, em Creta foi o fiasco. Os que acabaram comparecendo representavam uma fração fracativa das quase mil “igrejas ortodoxas” no mundo.

Tchoukhlov definiu o encontro de “espetáculo tristemente ridículo”.

Mas tanto em Moscou e quanto nas dependências vaticanas o mesmo foi pranteado como um fracasso da política de convergência com o comunismo metamorfoseado instalado na Rússia.



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