domingo, 22 de maio de 2016

Tártaros da Criméia
indignados com a opressão russa

Policia secreta russa reprime dissidentes tártaros.
Policia secreta russa reprime dissidentes tártaros.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs



A população tártara da Crimeia está indignada com a opressão que sofre por parte dos invasores russos de sua terra.

A tensão atingiu mais um patamar quando a Procuradora Geral da península, Natalia Poklonskaïa, suspendeu a Assembleia dos Tártaros, ou Medjlis, acusando-a falsamente de praticar “atividades extremistas” e de trabalhar pela “desestabilização”, escreveu o jornal parisiense “Libération”.

O Medjlis é o órgão representativo da população tártara da Crimeia. Os tártaros são um povo muçulmano de etnia turca que fizeram parte das hordas mongólicas que invadiram e devastaram o mundo eslavo entre os séculos XV e XVIII.

Após essas guerras, os tártaros se fixaram na Crimeia, dedicando-se à agricultura e ao artesanato, adotaram muitas formas da cultura ocidental e passaram a viver em paz com a população local, preservando a nostalgia de suas raízes históricas.

Os tártaros da Crimeia resistiram à revolução bolchevique, até que o regime comunista empreendeu uma sanguinária perseguição contra eles, coletivizando suas terras com a reforma agrária e dizimando-os nas Grandes Purgas dos anos 1930.

Uma geração inteira de homens de elite, políticos e intelectuais tártaros famosos foi massacrada pelo comunismo com falsas acusações.



A partir de maio de 1944, a população começou a ser deportada em massa para a Ásia Central por ordem de Stalin. Muitíssimos morreram neste exílio despótico.

Porém, quando em 1991 caiu a URSS, mais de 250.000 sobreviventes decidiram voltar à terra de seus antepassados e constituem hoje 12% da população da península.

Os tártaros da Crimeia logo manifestaram seu repúdio à invasão russa de 2014 e apoiaram a Ucrânia. 70% deles se abstiveram no referendo que coonestou fraudulentamente a anexação da península à Rússia.

Tártaros da Crimeia protestam com bandeiras ucranianas, além da própria.
Tártaros da Crimeia protestam com bandeiras ucranianas, além da própria.
Por sua vez, Vladimir Putin, herdeiro dos ódios de Stalin, incentivou a perseguição contra toda forma de afirmação da identidade tártara.

Agora a Procuradora Natalia Poklonskaïa declarou que a menção ao Medjlis está “proibida em todos os órgãos da mídia estaduais e municipais”, e que ele “fica proibido de organizar reuniões, fazer uso de contas bancárias e realizar qualquer espécie de atividade”.

A ditatorial decisão permanecerá em vigor até o acórdão do tribunal que vai proceder à proibição definitiva, acrescentou o jornal parisiense.

O governo russo acusa o Medjlis de ser responsável pelo bloqueio alimentar e energético da Crimeia. De fato, militantes tártaros e ucranianos bloquearam a passagem dos caminhões que vinham da Ucrânia e fizeram voar pelos ares as linhas de alta tensão, deixando a península na escuridão e no frio.

Os chefes russos locais acusam Renat Tchoubarov e Mustafa Djemilev, deputado no Parlamento ucraniano e líder histórico dos tártaros da Crimeia, de serem os principais culpados. Os dois estão exilados.

O atrito é muito importante porque a Rússia se revelou incapaz de sustentar as necessidades básicas do povo da Crimeia e até de lhe fornecer energia elétrica, embora oficialmente a península agora faça parte da Rússia.

Reunião de Tártaros da Crimeia nas montanhas de Chatyr-Dag, perto de Alushta, para comemorar o 71º aniversário da deportação em massa feita pelo comunismo russo.
Reunião de Tártaros da Crimeia nas montanhas de Chatyr-Dag, perto de Alushta,
para comemorar o 71º aniversário da deportação em massa feita pelo comunismo russo.
As autoridades russas tentaram seduzir essa comunidade autônoma reconhecendo oficialmente seu idioma, reabilitando os tártaros deportados e concedendo-lhe 134 milhões de euros para melhorar suas condições de vida.

Porém, a Rússia fechou a única rede de TV em língua tártara, a ATR, o ensino nessa língua local foi drasticamente reduzido e os tártaros ficaram proibidos de se reunir na capital, Simferopol, até para comemorar a deportação estalinista.

Os tártaros se viram logo reforçados na ideia da duplicidade maquiavélica de Moscou, acentuada pela lembrança dos massacres comunistas do passado.

O Medjlis representa os tártaros desde 1991, mantém bom relacionamento com a Ucrânia e é detestado pela despótica “nova Rússia” de Vladimir Putin.

Para Amnesty International, a decisão da Procuradoria visa “afogar qualquer dissidência” e “suprimir um dos últimos direitos de uma minoria que a Rússia deveria proteger em lugar de perseguir”.

Desde o golpe russo de 2014 seis membros da comunidade tártara desapareceram, tendo um deles sido encontrado morto no mesmo ano de 2014.


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