domingo, 8 de março de 2015

A Igreja Católica perseguida
numa Bielorrússia ainda comunista

Monumento ao soldado soviético, em Brest, Bielorrússia
Monumento ao soldado soviético, em Brest, Bielorrússia


Na Bielorrússia, extenso país eslavo que foi escravo da URSS e faz fronteira com a católica Polônia, a Igreja sofreu 70 anos de perseguição e ainda hoje geme num ambiente de ditadura comunista, apontou a associação “Ajuda à Igreja que sofre”.

Magda Kaczmarek, encarregada da Bielorrússia em dita associação, voltou a viajar a esse país em novembro de 2014. E deu uma entrevista contando as impressões colhidas nas quatro dioceses católicas do país.

Ela explicou que “é geralmente sabido que os bielorrussos vivem sob uma ditadura. O país está muito isolado e tem-se a sensação de que o comunismo ainda está presente.

“Nas cidades e no campo continuam os monumentos de Lênin, de membros do Exército Vermelho, tanques ou aviões que lembram os velhos tempos. Eu fui criada na Polônia socialista; e nesses dias foi como se tivesse retornado a essa época na Polônia”.



Magda Kaczmarek diz que “as pessoas têm pouca confiança mútua”, em boa parte por medo de serem denunciadas à polícia política e sofrer punições, cárcere ou morte.

Nas cidades e, sobretudo no campo, tudo é cinza, triste. A vida é muito monótona. O socialismo mantém todos na miséria e há poucos carros. Um ordenado médio é de 750-800 reais.

Estátuas de Lenin, como esta em Minsk,
espalhadas por todo o país
Os bielo-russos trabalham sobretudo em assentamentos da reforma agrária socialista, os chamados kolkhoses, e não têm muitos horizontes materiais.

Eles dispõem de pouca informação do que acontece no mundo, e ficam presos à bebida, pois o regime mantém a aguardente muito barata. Há um consumo de quase 16 litros per capita, o maior da Europa.

O visitante encontra cidades como que abandonadas.

Pertencem à Igreja católica pouco mais de 1,5 milhões dos quase 9,5 milhões de habitantes do país, se acreditarmos nos dados oficiais.

A Bielorrússia é o país da Europa Oriental com maior proporção de católicos.

O grupo religioso majoritário é o dos cismáticos ditos “ortodoxos” e “cristãos”, mas cujos dirigentes fazem parte do sistema repressivo comunista e não têm a confiança da população.

A União Soviética marxista tentou erradicar a fé durante 70 anos, contou Magda.

A Igreja Católica foi perseguida e literalmente destruída: suas igrejas foram transformadas em cinemas, armazéns, locais esportivos ou oficinas, aliás um pouco como se está vendo na Europa Ocidental sob o efeito do chamado “espírito pós-conciliar”.

Na URSS, os sacerdotes eram perseguidos, deportados aos campos de concentração da Sibéria ou assassinados.

Igreja de Santa Bárbara, em Vitebsk,
uma das poucas que subsistiu em pé
Hoje os leigos têm que manter as igrejas nas cidades e no campo. Muitos não podem manifestar sua fé.

E a Igreja deve procurá-los, reanimar suas raízes cristãs e catequizá-los. As avós ajudaram a transmitir a Fé levando seus netos à igreja.

“Para mim – disse Magda –, esta viagem, como na verdade todas as outras, foi como fazer exercícios espirituais, pois minha fé saiu reforçada”.

Após décadas de propaganda comunista, a família sofreu horrivelmente. 70% dos casamentos acabam em divórcio, multiplicando-se as “segundas uniões”, as “terceiras uniões”, o “amor livre” e o desespero final.

O desfazimento das famílias repercute nas vocações. Em geral, as vocações religiosas provêm de famílias bem constituídas e com prole numerosa.

A associação para a qual Magda trabalha – Ajuda à Igreja que sofre – auxilia a formação de bons professores e seminaristas.

Magda Kaczmarek contou o que ela viu
Magda Kaczmarek contou o que ela viu
Também coopera para a construção de pequenas igrejas e capelas nos bairros novos das cidades.

Porém, todas as propriedades eclesiásticas foram confiscadas pelo socialismo, e apesar da rumorosa queda da URSS, nada foi feito para restituí-las a seu legítimo dono, vigorando a regime dos tempos soviéticos.

A hostilidade socialista é ostensiva: conseguir um alvará de construção pode durar anos.

A burocracia funciona para desanimar os católicos e deixa os sacerdotes literalmente doentes, diz Magda.

A Igreja depende em grande medida de auxílios do exterior, e o Estado não coopera em nada.

Os sacerdotes que vêm de fora só podem permanecer alguns meses no país. O governo não prorroga seus visados.

A Bielorrússia é um dos países com maiores índices de aborto no mundo, comparáveis somente aos da Rússia de Putin.

Esse crime organizado e monstruoso constitui também grave ameaça ao catolicismo e ao recrutamento das indispensáveis vocações religiosas, concluiu a entrevistada.

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