quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A economia rola no precipício,
mas TV russa diz que está ótima

O rublo perde vertiginosamente valor e as arcas do governo esvaziam.
O rublo perde vertiginosamente valor e as arcas do governo esvaziam.


A falta de notícias sobre a economia da Rússia é um sinal alarmante de que a crise vai longe, comentou “The Economist”, reproduzido por “Business Insider”.

Num país livre essa conclusão não se entende. Mas na Rússia compreende-se muito bem. Pois, como nos tempos soviéticos, a TV do Estado não informa, mas repete slogans.

A imagem do país é a oficial. E ela é dominada pela guerra na Ucrânia, que estaria sendo conduzida furiosamente pelos EUA e na qual a Rússia nada teria a ver em virtude da sabedoria do presidente Putin.


Outra temática preferida são os sucessos russos nos esportes, pouco importando a quantidade de droga usada e os subornos pagos. No ballet e outras atividades, segundo a versão oficial, os EUA estão devorados de inveja diante dos sucessos russos.

A TV russa nem menciona a economia, mas os cidadãos correm para trocar seus subvalorizados rublos por dólares ou euros, ou comprar qualquer coisa sólida antes que a moeda nacional fique valendo seu peso em papel velho.

As duas primeiras semanas de 2015 foram de férias. Mas nelas o rublo perdeu mais 17,5% do seu valor em relação ao dólar. A inflação anda pelos dois dígitos. O petróleo, fonte quase única de divisas do país, por vezes chega a menos de U$ 50 o barril.

A perspectiva é que o PIB caia entre 3% e 5% neste ano, enquanto os títulos russos se aproximam inexoravelmente ao patamar dos bônus podres.

O governo ostenta uma calma Zen como disfarce de sua total carência de estratégia.

A infraestrutura básica, com exceções, ainda é a soviética. Teleférico em Chiatura, ontem e hoje na Georgia
A infraestrutura básica, com exceções, ainda é a soviética.
Teleférico em Chiatura, ontem e hoje na Georgia
Aposentadorias e salários caíram 5%, independente da corrosão da inflação. Mas, na TV, Putin aparece recebendo relatórios positivos dos governadores regionais.

As reservas monetárias estão mais baixas do que nunca. E, diversamente de crises anteriores, o atual governo não tem credibilidade internacional alguma e não pode aguardar créditos.

Para defender o rublo, ele aumentou 17% os juros em dezembro. Mas de nada valeu, pois os russos saíram correndo para as agências de câmbio.

O Kremlin passou a extorquir os empresários que manipulam moedas estrangeiras para as manterem no país. Ainda assim, qualquer dinheiro que o Banco Central fornece aos bancos russos desaparece, transformado em moeda estrangeira.

Segundo “The Economist”, a única solução seria o governo “secar” o mercado de qualquer moeda. Mas, de acordo com German Gref, chefe do Sberbank, o maior banco estatal russo, isso afundaria maciçamente os bancos.

A Rússia sobrevivia da importação de produtos, os alimentares em primeiro lugar. Mas ela se vê agora obrigada a substitui-los por alimentos nacionais, o que é irrea, pois a terra não foi privatizada e os kolkhozes continuam produzindo nada, ou quase tanto.

Em matéria de equipamentos, a Rússia está apelando para as sobras da economia soviética. Ela não tem como substituir a tecnologia importada.

Alexei Kudrin, ex-ministro da Fazenda, e Evsey Gurvich, economista, argumentam que a economia russa não pode ser reparada com medidas fiscais ou monetárias.

Roleta-russa é a cotação do rublo
Roleta-russa é a cotação do rublo
As forças do mercado estão fragilizadas, pois, após intenso trabalho de Vladimir Putin e de sua fiel nova Nomenklatura, não sobra quase nada da economia livre.

A economia está em mãos de empresas estatais ou quase estatais geridas pela Nomenklatura, que vive dos financiamentos políticos.

A corrupção e a virtual ausência de direitos de propriedade puseram fora as empresas eficientes. Só ficaram as parasitas sugando o Estado. Só que agora o Estado não tem mais seiva.

Kudrin e Gurvich explicam que a fantasia acabou: já não é fácil achar crédito pela queda do petróleo, a guerra da Ucrânia e o consumo insatisfeito.

A única solução consistiria em reestruturar a economia restaurando as liberdades econômicas, a propriedade privada e o papel dos mercados.

Mas isso é blasfêmia, significa diminuir os poderes onímodos de Putin e de seus súditos. Assim, a economia não para de escorregar precipício abaixo.

Isso não impede a TV de comemorar uma resplandecente situação criada sob a inspiração do novo Soviete Supremo e de seu infalível dirigente máximo.

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2 comentários:

  1. Deus te abençoe, senhor Luís Dafour! estudo Relações Internacionais e, graças ao Mídia Sem Máscara e seus EXCECENTES sites, eu conheço hoje muito mais sobre Rússia, China e Comunismo do que os bocós alunos e professores via MEC, que se prendem a mentiras governamentais e falsas expectativas criadas pelos socialistas!
    Muito obrrigado e saiba que mesmo se não houver muitos comentários por aqui, seu site É UMA BENÇÃO!
    Paz.

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  2. A violência e vigilância na população russa no melhor estilo Orwelliano.
    Esse é o verdadeiro retrato da Eurasia de Putin:
    No livro 1984, a sociedade é controlada por um Estado totalitário, com um partido único, que tem o controle total de qualquer tipo de informação que um indivíduo possa requisitar.
    um único Partido governava, e estava constante e alternadamente em guerra com uma das outras duas potências. A guerra constante era um fator primordial para que a estrutura social fosse mantida, pois apenas uma guerra era capaz de absorver o excesso de recursos produzidos por um sistema industrializado ao extremo. Sem guerras, a enorme quantidade de recursos teria de ser distribuída igualmente para a "massa", e esta massa acabaria adquirindo poderes demais (algo obviamente indesejável para um Partido que queria se manter no poder). Com uma guerra constante contra qualquer das duas outras superpotências era possível garantir apenas o suficiente para a subsistência do povo, enquanto o excesso de produção poderia ser gasto em materiais bélicos e improdutivos.

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