segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Kremlin combinou dopagem de atletas

Putin apontado pela Agência Mundial Antidoping como peça fundamental do esquema de dopagem de atletas na Rússia
Putin apontado pela Agência Mundial Antidoping
como peça fundamental do esquema de dopagem de atletas na Rússia 
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




A Rússia está muito perto de não ser representada nas modalidades de atletismo nas Olimpíadas de Rio de Janeiro.

O presidente da Associação Europeia de Atletismo, Svein Arne Hansen, espera que a Rússia não volte às competições internacionais a tempo de participar dos Jogos Olímpicos, noticiou a agência Reuters.

Segundo a mesma agência, os atletas russos foram banidos indefinidamente pela Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF, na sigla em inglês) em 2015, após a Agência Mundial Antidoping (WADA) relatar uma ampla rede de corrupção e cultura do uso de drogas na Rússia.



A agência também constatou, num relatório de 89 páginas divulgado no dia 14 de janeiro 2016, que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, sabia dos casos de doping no atletismo.

E acrescentou que as decisões sobre quem competiria nos eventos internacionais exigiam que a Associação Internacional de Atletismo fechasse acordos diretamente com o chefe do Kremlin, como informou “O Estado de S. Paulo”. 

O dinheiro de Moscou entrou na IAAF, com um salto de US$ 6 milhões para US$ 25 milhões dados por um banco russo para os direitos de transmissão do Mundial de Atletismo em 2013, acrescentou o jornal.

O ex-coronel da KGB concede enorme importância propagandística – como aliás outrora na URSS – aos sucessos materiais e façanhas corpóreas.

Em relatório, a Agência Mundial Antidoping (WADA) acusou a Rússia de “dopagem organizada”, noticiou “20minutes”. 

Grigory Rodchenko, chefe do laboratório russo que em vez de controlar e bloquear o doping fazia o contrário, renunciou formalmente.

Rodchenko estava no coração de um profundo sistema nacional de dopagem que tinha a anuência do governo e incluía a destruição dos testes positivos que denunciavam a presença de produtos proibidos.

A Comissão de Ética da IAAF suspendeu pela vida inteira também Valentin Balakhnichev, ex-presidente da Federação Russa de Atletismo e tesoureiro da entidade, e Alexei Melnikov, ex-treinador chefe da federação russa para corredores de longa distância, escreveu a “Folha de S.Paulo”.

Putin sonha recuperar o destaque esportivo da URSS, com os velhos métodos. Nos Jogos Olímpicos de inverno 2014. Sochi, Rússia.
Putin sonha recuperar o destaque esportivo da URSS, com os velhos métodos.
Nos Jogos Olímpicos de inverno 2014. Sochi, Rússia.
Reagindo na fidelidade às cartilhas da velha KGB, Moscou denunciou um imaginário complô dos inimigos da Rússia, que visariam se livrar de um “competidor importante” e “sujar a imagem” do país”, segundo o ministro dos Esportes Vitali Moutko, muito próximo de Vladimir Putin.

A existência de esquemas para a dopagem de atletas não é novidade O que impressiona neste escândalo é o envolvimento direto do governo e das autoridades esportivas para acobertar os casos.

Quem deveria ser responsável pelo controle da trapaça era, na verdade, o maior trapaceiro, escreveu a “Folha de S.Paulo”.

A engrenagem de fraude russa assusta. Segundo investigação da Agência Mundial Antidoping, até agentes da FSB (a polícia que substituiu a KGB) atuavam para pressionar os responsáveis dos testes antidoping.

A agência antidoping russa destruiu 1.417 amostras antes da visita dos investigadores. Ela cobrava propina para ignorar resultados positivos, e atletas usavam identidades falsas durante treinamentos da seleção para escapar dos testes-surpresas feitos fora de competição.

O esquema talvez só seja comparável ao da Alemanha Oriental no período da Guerra Fria. Estima-se que, entre os anos 60 e 80, 10 mil atletas estiveram em um programa sistemático de uso de doping com suporte do governo, acrescentou a “Folha”.

A Agência Antidoping Russa só perdeu para a China em número de testes em 2014: 12,5 mil. As amostras foram colhidas, mas os resultados divulgados são reais ou apenas refletem o interesse de quem fez o exame?, perguntou ainda o jornal paulistano.


Putin pessoalmente envolvido no escândalo do doping no atletismo russo



Atualizações grátis de 'Flagelo russo' em seu e-mail

3 comentários:

  1. Esta notícia é verdadeiramente assustadora.
    http://www.interfax-religion.com/?act=news&div=12690

    Luís, qual é a sua opinião sobre uma eventual, e cada vez mais provável, visita do Papa Francisco a Moscovo? Tem algum artigo publicado sobre esse assunto?

    Basto

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Prezado Basto,
      Compreendo sua impressão, mas é o que nós estamos denunciando há anos. Só que Putin não tinha confessado tão descaradamente nos últimos tempos. Agradeço sua contribuição com o link enviado pois servirá para abrir os olhos de muitas pessoas.
      A viagem de um Papa a Moscou há muito vem sendo sonhada em diversos pontificados. Paulo VI tinha combinado -- relata o Cardeal Casaroli em suas Memórias -- viajar para Polônia na noite de Natal de 1965, logo após o Concílio, tendo tudo arranjado com o Pacto de Varsóvia, criatura russa.
      O maior obstáculo foi sempre o fato da fraqueza do Patriarcado de Moscou. Ele é tido em horror por muitíssimos russos.
      Tenho conversado sobre isto com sacerdotes católicos de diversas gerações e tendências que estiveram na Rússia em épocas diferentes mas conhecem muito bem o "dia a dia" do povo russo. Também falei com jovens russos.
      A presença de um Papa na Rússia -- qualquer que seja a opinião sobre ele -- poderia desencadear ondas de conversões ao catolicismo.
      Não menciono nomes por razões óbvias. Mas um sacerdote católico de meia idade que celebra em rito russo, católico evidentemente, chegou a me dizer que o povinho é potencialmente católico pois não têm nenhuma reticência à Igreja Católica e está escandalizado com o clero da "Igreja Ortodoxa" cúmplice das chacinas soviéticas e entregue a todos os vícios.
      Ele veriam com naturalidade a ideia de adotar o catolicismo.
      É esta a razão da fúria do Patriarcado de Moscou e do Kremlin pelos desenvolvimentos na Ucrânia. O rito greco-católico ucraniano está demonstrando uma capacidade de expansão apostólica explosiva.
      E pela proximidade cultural, histórica, linguística, etc., o fenômeno de conversões pode entrar pela Rússia adentro após ter se expandido suficientemente no leste ucraniano.
      Obviamente, o falso ecumenismo está apavorado com a ideia e está acumpliciado com Moscou.
      Mas não está conseguindo dar a volta naquilo que para eles é um pesadelo, e para nós é um início de realização da conversão da Rússia prometida por Nossa Senhora em Fátima.
      Atenciosamente,
      P.S.: até agora não publiquei nada sobre isto. Meu método é partir sempre dos fatos concretos averiguados, documentados e publicados, de conhecimento acessível para quem quiser.

      Excluir
  2. Obrigado Luís pela atenção. A questão que eu lhe coloquei é um assunto que me tem fascinado desde há algum tempo para cá e porque esta semana surgiu este interessante artigo do vaticanista Sandro Magister:

    http://chiesa.espresso.repubblica.it/articolo/1351215?eng=y

    Mesmo depois desse episódio do Papa Paulo VI que desconhecia - obrigado pela informação - é do conhecimento público que JPii e Bxvi queriam ir à Rússia e até foram oficialmente convidados por Gorbachev e Putin, pois mantinham boas relações diplomáticas com a Santa Sé. No entanto, essa possibilidade terá sido sempre recusada pela IOR, conforme se pode verificar, por exemplo aqui:

    «The Roman Catholic Church and Russian Orthodox Church had had no relations whatsoever before the Vatican II of 1962-1965. The late Pope John Paul II was the first to express his desire to visit Russia. He was invited first by Soviet President Mikhail Gorbachev, then by Russian President Vladimir Putin, but never by the Primate of the Russian Orthodox Church.»
    http://www.kommersant.com/page.asp?id=661226

    «Gorbachev: “I hope that after this meeting our relations will gain new momentum and I assume that at some point in the future you could visit the USSR.” […] John Paul II: “If this were allowed, I would be very glad to. […] I am deeply grateful to you for the invitation. I would be glad to have the opportunity to visit the Soviet Union, Russia, to meet with Catholics and not only them, to visit holy places that are for us, Christians, a source of inspiration. Thank you for the invitation. I can well appreciate its weight and importance.”»
    https://cnsblog.wordpress.com/2009/12/11/inside-the-john-paul-ii-gorbachev-meeting/

    «Popes Benedict and John Paul had standing invitations from the Russian government but could not go because they received no matching invitation from the Orthodox Church. Francis would need the same to go to Russia.»
    http://www.reuters.com/article/us-pope-putin-idUSBRE9A60WC20131107

    As razões normalmente apontadas para este indeferimento por parte da IOR são o facto de os papas nunca terem aceite três condições: 1)recusar a "pretensão" de se assumirem como o único e verdadeiro Vigário de Cristo na Terra, que para nós se justifica por razões históricas e de fé; 2)não promover o "proselitismo" católico dentro do território canónico da IOR, o que equivale à recusa da ideia de conversão; 3)resolver o incómodo "problema" da Igreja Uniata, os Católicos de rito oriental, principalmente na Ucrânia.

    Eu penso que o atual Papa Francisco desvaloriza constantemente o seu papel de Papa, gosta de ser considerado um mero bispo da diocese de Roma e parece estar a preparar (pelos sinais que vai dando) uma verdadeira revolução na Igreja para diminuir o poder papal ao nível da autoridade em matérias de doutrina e de moral. Por outro lado, rejeita completamente a ideia de conversão para dar lugar a uma "cultura do encontro". Penso que só lhe falta mesmo resolver o problema dos Greco-católicos, mas as suas posições ambivalentes face às investidas russas na Ucrânia às vezes parecem um piscar de olhos à Rússia. Ainda assim, este não deixa de ser ainda, neste momento, o principal entrave à eventual visita porque os dois primeiros problemas estão, na minha opinião, ultrapassados.

    http://www.interfax-religion.com/?act=news&div=12682

    Agora, se essa visita algum dia vier a concretizar-se, com a aceitação das condições impostas, penso que poderá vir a ser a gota de água que fará transbordar o copo da Paciência Divina. O que foi pedido em Fátima em 1917 foi a conversão da Rússia e não uma "cultura do encontro" ou outros exotismos.

    Basto

    ResponderExcluir