domingo, 1 de fevereiro de 2015

Putin volta a atacar na Ucrânia,
mas a sedição crepita no interior russo

Alvos civis atingidos em Mariupol.
Alvos civis atingidos em Mariupol.


Rebeldes pró-russos – que mal se distinguem dos soldados russos – lançaram uma ofensiva com foguetes GRAD contra o porto estratégico de Mariupol, no leste da Ucrânia sobre o Mar de Azov.

O ataque atingiu essencialmente alvos civis e fez pelo menos 30 mortos e 83 feridos.

A cidade, de 500.000 habitantes, é vital para dar vazão às exportações de aço e grãos ucranianos. Além do mais, se ela cair em mãos dos (pró-?) russos, permitirá a unificação do leste rebelde com a península da Criméia anexada ilegalmente pelo Kremlin.

Durante cerimônia num monumento às perdas (pró-?) russas em Donetsk, o líder rebelde Alexander Zakharchenko, citado pela agência russa RIA-Novosti, comemorou o ataque contra civis em Mariupol como sendo “a melhor homenagem aos nossos mortos”.


Zakharchenko foi encarregado de anunciar o plano de sitiar nos próximos dias a cidade de Debaltseve, no nordeste de Donetsk, informou a sempre previamente informada agência russa Interfax.

A escalada de ataques do lado (pró-?) russo foi acompanhada de diatribes de Vladimir Putin contra Kiev. Numa das mais hilariantes, ele acusou o exército ucraniano de ser a “Legião Estrangeira” da OTAN.

Como se um exército nacional lutando por seu país pudesse ser comparado a um regimento estrangeiro! Os estrangeiros, isso sim, são abundantes nas fileiras das unidades rebeldes e foram recrutados na Rússia.

Federica Mogherini, chefe da política externa da União Europeia, condenou o ataque a Mariupol.

A Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) comunicou o ataque ao Conselho de Segurança da ONU, que pediu que os responsáveis fossem entregues a um tribunal para serem julgados.

Rebeldes da autoproclamada República de Donetsk  foram rearmados pela Rússia
Rebeldes da autoproclamada República de Donetsk
foram rearmados pela Rússia
Obviamente, a Rússia não vai se entregar a si própria.

Falando um pouco utopicamente, a líder da União Europeia disse: “Eu apelo abertamente à Rússia para usar sua considerável influência sobre os líderes separatistas e cortar toda forma de apoio militar, político ou financeiro”, disse Mogherini.

Nos mesmos dias, foram flagrados grandes comboios de tanques russos de um modelo da Segunda Guerra Mundial, aparentemente ainda em uso, transferidos para Rostov, perto do leste ucraniano.

Em telefonema ao presidente ucraniano Viktor Poroshenko, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, condenou os ataques e a violência separatista.

E em Zurique, o secretário de Estado americano John Kerry disse que o ataque separatista foi ajudado pela “decisão perigosa e irresponsável [da Rússia] de reequipar os separatistas nas últimas semanas com centenas de novas peças de armamento avançado, incluindo sistemas de mísseis, artilharia pesada, tanques, veículos blindados e contínuo apoio de comando e controle”.

Moscou nega ter enviado tropas e armas à Ucrânia, apesar de o Ocidente considerar que esse é um fato irrefutável e de centenas de mães russas ainda reclamarem por seus filhos, provavelmente mortos nessa guerra.

O presidente ucraniano Poroshenko vem denunciando que ingressaram no país cerca de 9.000 soldados russos.

A necessidade de Putin de empolgar a queixosa e sofrida população russa contra um adversário comum – Ocidente e a Ucrânia – cresceu nas últimas semanas com as notícias de que Moscou estaria perdendo o controle sobre a Chechênia, segundo escreveu Michael Khodarkovsky, professor de História da Universidade Loyola, em Chicago.

Ramzan A Kadyrov: ambíguo homem de confiança de Putin está à testa de uma das Repúblicas mais díscolas da Rússia
Ramzan A Kadyrov: ambíguo homem de confiança de Putin
está à testa de uma das Repúblicas mais díscolas da Rússia
O presidente dessa região separatista muçulmana, Ramzan A. Kadyrov, nomeado por Vladimir Putin em 2007, promoveu uma manifestação em massa em Grozni, capital regional, contra os “inimigos do Islã”.

O pretexto é bem conhecido: “Charlie Hebdo” e suas sátiras contra Maomé.

Porém, Putin quer concentrar todas as religiões e todos os religiosos na Igreja Ortodoxa Russa, que está nas mãos de fiéis correligionários, oriundos também eles da polícia política soviética KGB, como o patriarca Kirill.

Os muçulmanos são um problema para o ditador monopolizador. Somam quase um sexto da população russa, e 2 milhões deles moram em Moscou.

A repressão da Chechênia muçulmana acabou num banho de sangue, e muitos ressentidos estão engrossando as fileiras do Estado Islâmico.

Por isso o Kremlin pôs igual culpa nos assassinos e nos assassinados, no caso do “Charlie Hebdo”.

Em quase uma década, o presidente regional Kadyrov usou métodos impiedosos de repressão contra qualquer oposição, islamita ou não.

Ele provou sua lealdade a Putin enviado “voluntários” chechenos sobretudo ao leste da Ucrânia, com duplo lucro: livrar-se de dissidentes perigosos e enviar bandidos belicosos para servir aos planos do líder máximo.

Mas sob sua direção formou-se um Estado islâmico dentro da Rússia.

A Chechênia está totalmente islamizada. As escolas públicas ensinam o Islã. Um juiz corânico administra justiça em cada comarca. Os tribunais da Sharia (lei islâmica) funcionam como tribunais do Estado.
Ramzan A Kadyrov dirige uma Chechênia cuja fidelidade a Moscou é uma incógnita
Ramzan A Kadyrov dirige uma Chechênia
cuja fidelidade a Moscou é uma incógnita

As mulheres andam cobertas em locais públicos e o álcool é proibido.

Kadyrov proclamou que a mulher é propriedade do homem e defendeu “assassinatos em nome da honra”, em obediência ao Corão.

Kadyrov também se gabou de que poderia levar um milhão de muçulmanos para protestar nas ruas de Moscou.

A mídia pró-Putin abafa as notícias da Chechênia e o Kremlin quer segurar o homem que devia integrar a Chechênia à Rússia, o qual, em vez disso, cria um Estado islâmico dentro da “nova URSS”.

Kadyrov é do partido de Putin, mas disse que a Sharia é a lei suprema. E Putin de momento se acomoda melhor com a Sharia do que com a liberdade de expressão. Mas, a lei suprema é ele, e mais nada.

Quanto durará esta contradição explosiva?

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